A CP garantiu esta quarta-feira que reparará o dano causado a um agente da PSP, que sofreu "desfiguração grave" quando viajava num comboio da empresa em 2003.
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A mandatária da CP no processo disse hoje, em tribunal, que a atitude da CP "não é laxista" e que nunca deixará de reparar o dano causado a Paulo Monteiro.
"A CP tenciona pagar o que deve, mas não mais do que isso", disse Fátima Paixão de Matos, nas alegações finais de um julgamento que se iniciou em 2008 e no qual a CP surge não como arguida mas como defesa na parte do pedido cível.
Antes, o advogado de Paulo Monteiro, Francisco Espinhaço, pediu ao tribunal que fixasse um adiantamento à indemnização que será devida ao seu cliente, referindo o valor de 75 mil euros, próximo da verba que consta de um pedido particular feito anteriormente à CP.
Essa verba, adiantou, servirá para ajudar Paulo Monteiro a pagar despesas que o seu orçamento familiar não suporta, muitas delas decorrentes das limitações impostas pelo acidente.
Numa contabilização das perdas salariais sofridas por Paulo Monteiro - que ganha hoje o mesmo que há oito anos, por não ter progredido na carreira, e que ficou impossibilitado de fazer serviços extra - e pela mulher, que ficou desempregada para lhe dar assistência, Francisco Espinhaço referiu um valor de 85 mil euros de "empobrecimento directo, objectivo" nos últimos seis anos.
Francisco Espinhaço insistiu na urgência de a CP acabar com o impasse que está a impedir a realização da 43.ª intervenção cirúrgica de Paulo Oliveira Monteiro na clínica Ivo Pitanguy, no Rio de Janeiro (Brasil), onde o seu rosto tem vindo a ser reconstituído com partes do seu próprio corpo, como frisou.
Paulo Monteiro aguarda desde Outubro a autorização para poder reconstituir o lado esquerdo da face, advertindo Francisco Espinhaço que os tratamentos têm tempos que devem ser cumpridos, sob pena de se comprometer o seu sucesso.
O advogado realçou o facto de o lado humano da presença de Paulo Monteiro ter servido para aproximar as partes durante o julgamento.
Os mandatários dos quatro funcionários da CP acusados de crime de ofensa à integridade física por negligência grave, passível de uma pena de prisão até dois anos ou multa até 240 dias, pediram esta quarta-feira a absolvição dos arguidos, alegando que actuaram dentro dos seus conhecimentos e que o dano provocado não era previsível, dado que nunca acontecera.
Na sessão do dia 10, o Ministério Público pediu a condenação de três dos quatro arguidos - o maquinista, o inspector de tracção do depósito e o chefe de equipa de material - e a absolvição do operador de material, por entender que este não tinha o poder de decidir sobre qual a melhor actuação, tendo obedecido a ordens do seu superior hierárquico.
Paulo Monteiro viajava no comboio com destino a Lisboa no dia 6 de Janeiro de 2003, tendo sido atingido na face por uma peça, com perto de quatro quilos, que se soltou da composição que se cruzou com o comboio em que seguia.
Essa composição levava uma carruagem que tinha desligado o sistema de freio devido a uma avaria que tinha que ser reparada nas oficinas do Entroncamento e que foi "remediada" com arames.
A leitura da sentença ficou marcada para 10 de Janeiro de 2012.