O professor da Universidade Lusófona do Porto Paulo Morais defendeu, esta quinta-feira, em Coimbra, que os "níveis de promiscuidade" em Portugal entre a política e os negócios "atingiram situações inimagináveis há 20 ou 30 anos".
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"Temos situações tão absurdas como pessoas da banca privada a controlar o Banco de Portugal e pessoas ligadas ao setor financeiro e ao setor das empresas que vão ser privatizadas a controlar no Parlamento as empresas que vão ser privatizadas e o próprio setor financeiro", afirmou.
O antigo autarca do Porto foi um dos oradores no seminário "O crime económico em Portugal", que decorreu hoje à tarde por iniciativa do CES - Centro de Estudos Sociais e da ASFIC - Associação Sindical dos Funcionários de Investigação Criminal.
"O nível de promiscuidade e de submissão dos poderes públicos a certos poderes económicos é de tal ordem que neste modelo é completamente impossível que haja um combate eficaz à corrupção porque, em boa verdade, aqueles que mais rapidamente deveriam combater a corrupção estão nos lugares públicos exatamente para a estimular", disse aos jornalistas, à margem do seminário.
Na sua perspetiva, "nas parcerias público-privadas, nas privatizações, nas questões ligadas à defesa não tem havido por parte das entidades públicas o cuidado devido" para evitar que a corrupção aumente.
Segundo Paulo Morais, "se é verdade que a crise gera corrupção também é verdade que foi a corrupção que gerou a crise" em que Portugal se encontra.
"O nosso grande problema, que levou aliás a este empréstimo externo, deve-se, por um lado, a uma grande dívida pública, muito da qual foi contratada ao longo de muitos anos e que não foi mais do que a canalização de recursos públicos para um conjunto de grupos económicos. Foram anos e anos em que o Estado andou a cobrar impostos aos cidadãos para entregar a três ou quatro ou cinco grandes grupos económicos que sempre se alimentaram do Orçamento de Estado", afirmou.
A própria dívida privada "tem muito da sua origem na bolha imobiliária".
Cerca de "70% da dívida privada deve-se à especulação imobiliária, que é uma consequência da corrupção, fundamentalmente a nível autárquico, em que foram aprovados uma série de empreendimentos que jamais deveriam ter sido aprovados", afirmou.
Na intervenção no seminário, que decorreu no CES (Universidade de Coimbra), Paulo Morais frisou que "os níveis de promiscuidades entre a política, os negócios e os escritórios de advogados é de tal ordem que já não se distingue o que é um ator político do que é um ator de negócio".
Para o professor universitário, "o desenvolvimento do país "nunca será cumprido, se não houver um combate feroz à corrupção".
Na primeira parte do seminário foi apresentado o n.º 3 da revista "Investigação Criminal", edição da ASFIC, dedicado ao tema do crime económico.
