Portugal ainda aceita sacrifício da carreira das mulheres por causa da família
Os países nórdicos são os únicos na Europa a rejeitar, de forma clara, que as mulheres sacrifiquem as suas carreiras profissionais pela família, mas em Portugal essa possibilidade tem mais aceitação, segundo um inquérito.
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As conclusões estão numa análise a dados do Inquérito Social Europeu (ESS, European Social Survey) e que vão ser apresentadas na quinta-feira, no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
"Num contexto de crise financeira e económica e com orçamentos familiares mais curtos, em Portugal, Espanha e Irlanda a concordância com esta ideia diminui", indicam os investigadores na sua análise, referindo-se às mulheres ficarem em casa numa prioridade à família.
O trabalho "As perspetivas igualitárias sobre a família na Europa: evolução em contexto de crise" decorre da análise dos dados do ESS entre 2004 e 2010 por Anália Torres, Bernardo Coelho e Diana Carvalho.
Outra das conclusões indica a família como a "principal prioridade da vida dos indivíduos".
No resumo do trabalho a que a agência Lusa teve acesso, pode ler-se que há uma "tendência igualitária de género", isto é a convergência entre todos os países da Europa e um elevado grau de concordância com a "ideia de que os homens deviam ter tantas responsabilidades como as mulheres em relação à casa e aos filhos".
Da análise dos inquéritos, indica-se que o modelo da família assente no homem trabalhador é "ultrapassado e as famílias europeias assentam na dupla carreira".
"Mesmo no atual cenário de crise económica e financeira, em que se poderia imaginar alguns retrocessos, aos homens não é atribuída prioridade no acesso ao trabalho", indicam os investigadores sociais.
A eventual prioridade parece "perder ainda mais legitimidade, sendo mais rejeitada agora (2010) do que antes (2004)", mas há diferenças notadas: Portugal e outros países do sul e do leste europeu rejeitam menos a ideia de prioridade dos homens do que os países nórdicos.
Os dados vão ser apresentados na quinta-feira durante o XIII Seminário de Apresentação de Resultados do European Social Survey (ESS - Inquérito Europeu Social), no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.