A crise financeira e a redução dos fundos europeus estão a dificultar "o combate" da erosão na linha junto ao mar, alerta um estudo realizado pelo Instituto de Ciências Sociais e pela Faculdade de Ciências. Avisando que a costa portuguesa corre perigo, o estudo - denominado Projeto Mudanças Climáticas, Costeiras e Sociais, erosões globais, conceções de risco e soluções sustentáveis em Portugal - defende que é urgente encontrar meios alternativos de financiamento, segundo explicou dos cientistas envolvido no projeto, Filipe Duarte Santos.
Corpo do artigo
Elaborado com base em inquéritos a residentes e empresários locais, o estudo conclui que o Estado não tem capacidade para conter a expansão urbana na costa, apesar de ter feito "investimentos avultados" na sua defesa, gastando 126 milhões de euros entre 1995 e 2010.
Em realização desde março de 2010 pelo Instituto de Ciências Sociais e a Faculdade de Ciências, o estudo - cujas conclusões serão publicamente apresentadas em agosto - diz que Portugal é um dos países europeus mais afetados pela erosão costeira, apesar de 80% da população viver na costa e de 85% da riqueza produzida no país ter origem junto ao mar.
O projeto, que está em fase de conclusão, tem como objetivo final determinar as medidas a tomar perante os riscos da redução de território a favor do mar e que podem passar pela construção de um mecanismo de bloqueio da água do mar, pelo recuo das populações ou por uma situação intermédia, referiu à Lusa Filipe Duarte Santos, professor catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Para estudar o nível de erosão e as medidas a adotar, os cientistas escolheram três regiões como casos-estudo: Vageira, na zona de Aveiro, Costa da Caparica, em Lisboa, e Quarteira, no Algarve.
Nos três locais analisados, as populações consideraram que o risco é "grave ou muito grave", sendo que a Costa de Caparica é a região onde as preocupações são maiores.
Durante a análise, os cientistas reuniram com vários grupos sociais das três zonas - políticos, responsáveis da Agência Portuguesa do Ambiente, das câmaras, das juntas de freguesia, proprietários de empresas nessas povoações costeiras, banheiros, pessoal que faz a gestão das barracas na praia, além de pescadores e habitantes das regiões - e a preocupação foi comum.
"Toda a gente se apercebe que há um avanço do mar em todas as regiões, especialmente na Vagueira", adiantou Filipe Duarte Santos, que é professor catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e especialista em alterações climáticas.
Embora admita que as causas são diversificadas, o cientista sublinhou que a situação se deve "sobretudo a haver menos alimentação das praias por sedimentos transportados pelos rios, porque se construíram muitas barragens".
E apesar de se terem "feito várias obras, esporões sobretudo, para minimizar esta erosão, nem sempre isso foi bem-sucedido", disse, acrescentando que, nestas zonas, por serem costas baixas, os maiores riscos são as inundações.
"As pessoas começam a perceber que, para defender a costa, para que o mar não avance e ponha em perigo construções, é necessário investir muito dinheiro, que, nesta altura, não há", vincou o cientista, lembrando ainda a questão de saber quem paga: "É o Governo central? São as câmaras?".