
Transmissões ao vivo de vídeos dos protestos que ocorrem no Brasil tornaram popular o meio de comunicação alternativo Ninja - Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação, que tem nas redes sociais da internet a sua principal ferramenta.
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Com um telemóvel na mão, os "ninjas" participam nos protestos e mostram sem cortes ângulos por vezes não obtidos pela grande imprensa da violência policial, de embates entre os agentes e manifestantes, e de prisões.
"O grito pela democratização da informação era um dos mais fortes [nos protestos], e tínhamos uma proposta prática que dava conta desse anseio", afirmou à Lusa Felipe Altenfelder, um dos fundadores e editor do Ninja, acrescentando que ela se transformou no "canal oficial" das manifestações.
Além das queixas contra o alto custo dos transportes, a corrupção e os baixos investimentos do governo em saúde e educação, os manifestantes também criticavam nas ruas a atuação da grande imprensa brasileira, e, com isso, a Ninja conquistou espaço.
Com 50 membros fixos espalhados em seis cidades brasileiras e milhares de colaboradores, o grupo Ninja hoje possui mais de 147 mil seguidores na rede social Facebook e de 15 mil no microblog Twitter.
Na prática, além das pessoas que ficam nas ruas, gravando as manifestações, há uma equipa que recebe fotos e acompanha as notícias pela televisão aberta, para complementar a narrativa pela rede social Facebook e para dar informações a quem está na rua.
O "ninja" que está nas ruas tem "legitimidade para ser parcial" e construir a sua narrativa, segundo Altenfelder. "É outra dimensão de jornalismo, que se forja entendendo uma possibilidade de comunicação direta, sem filtros, com baixa resolução, mas com questões úteis", realçou.
O Ninja surgiu dentro do coletivo de intercâmbio cultural Fora do Eixo, num contexto criação de uma ferramenta de comunicação autónoma, para dar visibilidade a temas considerados prioritários. Em 2011, o grupo criou a Pós TV, que realiza transmissões ao vivo pela internet.
"Antes, estávamos distantes de São Paulo e Rio de Janeiro. Nessas cidades, tivemos contato com diversos jornalistas que estavam se desenvencilhando do mercado tradicional e procurando novas alternativas", disse Altenfelder. Nos últimos anos, grandes meios de comunicação brasileiros promoveram repetidos cortes de pessoal.
A página Ninja no Facebook foi criada em março deste ano, e uma equipe foi enviada à Tunísia para acompanhar o Fórum Social Mundial. Em junho, eclodiram os protestos no Brasil, que deram visibilidade ao projeto.
A partir de agora, segundo Altenfelder, a intenção é usar a audiência obtida para ser um "hub" e ajudar a divulgar outras iniciativas alternativas e locais de comunicação.
O Ninja, que atualmente trabalha com recursos próprios, planeia inaugurar uma nova página na internet e, a partir dela, criar sistemas de arrecadação de fundos, como a doação para transmissões ao vivo, a assinatura mensal voluntária, e o financiamento coletivo.
