A falta de divisas para importar papel para jornais está a causar uma crise na imprensa venezuelana, obrigando oito diários regionais a suspender as suas edições impressas, uma situação que poderá afetar duas dezenas de publicações.
Corpo do artigo
"Os importadores esgotaram os seus stocks de papel e de tinta", disse, esta quinta-feira, Edgar Fiols, diretor da Associação de Industriais de Artes Gráficas da Venezuela, precisando que os importadores estão à espera, há mais de seis meses que o executivo emita os "certificados de não produção", necessários para solicitar dólares para a importação.
Na Venezuela está em vigor, desde 2003, um sistema de controlo cambial que impede a livre obtenção de moeda estrangeira no país, uma situação que obriga os importadores a solicitar às autoridades a emissão de "certificados de não produção" com os quais podem ter acesso oficial a divisas destinadas à importação.
Os atrasos na emissão dos certificados e as dificuldades para obter divisas originou um mercado paralelo, em que as divisas são ilegalmente cotadas a valores que superam em mais de 600% o valor oficial de 6,3 bolívares por cada dólar norte-americano.
Segundo Edgar Fiols, o papel para os jornais é, para as autoridades venezuelanas, um bem não prioritário para importação, com os atrasos na emissão de certificados a afetar principalmente os diários regionais que dependem exclusivamente de distribuidores, em contraste com grandes jornais que conseguiram fazer grandes importações de maneira direta.
David Natera, presidente do Bloco Venezuelano de Imprensa, vai mais longe e atribui os atrasos a "um pretexto para impedir a circulação de meios impressos" e uma maneira de "impedir a liberdade de expressão e informação" num país onde os jornalistas se queixam cada vez mais de autocensura por temerem sanções e de tentativas governamentais de criar uma hegemonia na área da comunicação social.
Por outro lado, a socióloga e professora universitária Maryclen Stelling defendeu que "assim como o Governo (venezuelano) solucionou a crise do papel higiénico, deve procurar uma solução para o problema do papel para jornais, porque, se estes encerrarem, reduz-se a possibilidade de os cidadãos estarem informados".
Segundo a imprensa venezuelana, os jornais "Antorcha", "El Sol de Maturín", "El Caribazo", "La Hora", "El Caribe", "Los Llanos", "El Espacio" e "Versión Final" suspenderam as suas edições impressas em papel.
Por outro lado os diários "La Región", "El Periódico de Monágas", "El Clarín", "La Notícia de Barinas", "El Espacio de Barinas", "La Prensa de Monágas", "La Prensa de Anzoátegui", "La Hora Digital", "Jornada", "El Regional de Zúlia", reduziram as suas publicações, prevendo deixar de circular nos próximos dias.
Com reservas e papel para apenas 10 dias estão os diários "Mundo Oriental", "La Notícia de Oriente", "El Oriental", e "Avance".
