A RTP decidiu adiar a estreia de "O país pergunta", depois de o primeiro-ministro ter recusado o convite para participar no programa e da Comissão Nacional de Eleições ter aceite as queixas contra o formato. É "cancelar o jornalismo político durante quatro meses", considera o diretor da informação da estação pública.
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"Mantemos, obviamente, a intenção de manter aquele modelo. Não vamos estrear agora, mas vamos estreá-lo posteriormente", afirmou Paulo Ferreira, diretor de informação da RTP, no mesmo dia que fonte do gabinete do primeiro-ministro disse que Pedro Passos Coelho declinou o convite para participar no programa, perante as "atuais circunstâncias às quais é completamente alheio".
O diretor de informação da RTP disse que a estreia do novo programa fica, para já, adiada, referindo que não há uma nova data para o arranque. "Não temos data ainda. [...] Vamos ver quando há mais uma oportunidade editorial e interesse para avançarmos", afirmou.
Paulo Ferreira argumentou que "fazia sentido neste momento" que o primeiro-ministro "respondesse às perguntas das pessoas sobre o impacto das decisões dele nas suas vidas".
"Fazia todo o sentido neste contexto da troika [Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e Banco Central Europeu] e do Orçamento do Estado. Não havendo esta disponibilidade, pelas razões que conhecemos, vamos esperar uma melhor oportunidade e ela vai aparecer certamente", acrescentou.
Para o diretor de informação da RTP, a decisão da Comissão Nacional de Eleições (CNE) significa "cancelar" o jornalismo político entre a marcação e a realização de eleições.
"A posição que a CNE tomou em relação à RTP, a lermos bem, significa que não pode haver entrevistas a responsáveis políticos durante um período de quase quatro meses, de junho a setembro, entre a marcação e a realização de eleições", afirmou Paulo Ferreira.
"Não podemos cancelar o jornalismo político durante quatro meses, como quer a CNE", reforçou o diretor de informação da RTP, recordando que, nas últimas semanas, têm sido transmitidas várias entrevistas de ministro e mesmo do líder do PS, António José Seguro.
Esta semana, PS e PCP apresentaram queixas à CNE por considerarem que a RTP não está a garantir a igualdade de tratamento entre os líderes político-partidários ao ter combinado transmitir uma entrevista ao líder do PSD e primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, no programa 'O País Pergunta', no dia 10 - antes das eleições autárquicas de 29 de setembro e do Orçamento do Estado para 2014.
Na quinta-feira, a CNE pronunciou-se a favor das queixas, considerando que "um programa de entrevistas com responsáveis políticos, com o formato anunciado pela RTP, apenas pode ter lugar fora dos períodos eleitorais", segundo a notificação enviada ao canal televisivo.
Sobre as queixas apresentadas à CNE, o diretor de informação da RTP afirmou tratar-se de uma "tentativa permanente, que não é nova e que será constante, de os partidos políticos interferirem nas linhas editoriais".