Um homem de 37 anos, que havia ficado com o rosto desfigurado, há 15 anos, na sequência de um tiroteio, tornou-se numa pessoa feliz ao receber, nos EUA, o transplante do rosto de um doador anónimo, cujos órgãos ainda salvaram a vida de outros cinco pacientes.
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Richard Norris, residente em Hillsville, nos estado norte-americano de Virgínia, perdeu o nariz, os lábios e a maioria dos movimentos do rosto durante um tiroteio ocorrido há 15 anos.
Desde então, foi submetido a diversas cirurgias reconstrutivas, embora nenhuma tivesse conseguido repor-lhe totalmente o rosto, a ponto de se sentir bem na vida social. Foi, assim, obrigado a usar - para seu desgosto - um nariz protético e uma máscara sempre que saía à rua.
Para sua alegria, na semana passada, o Centro Médico do Hospital de Maryland, nos EUA, convocou-o para um transplante do rosto de um anónimo, que também doou outros órgãos a cinco outros pacientes.
Terça-feira passada, seis dias após uma cirurgia de 36 horas, Richard Norris já podia mexer a língua e abrir e fechar os olhos e recuperava muito mais rápido do que os médicos haviam calculado.
"Já se olha ao espelho ao barbear-se e ao escovar os dentes, coisa que não esperávamos tão cedo", afirmou Eduardo Rodriguez, professor de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland e chefe da equipa de transplantes, durante uma conferência de imprensa.
Quando Richard abriu os olhos no terceiro dia após a cirurgia, com a família à sua volta, pediu para ver-se num espelho.
"Ele pousou o espelho e agradeceu-me com um grande abraço", revelou o médico.
Tratou-se de mais um transplante facial bem sucedido, após as cirurgias efectuadas em Forth Worth, no Texas, e em Boston, no Massachusetts, no ano passado. E, pelo que parece, esta operação converteu-se na mais bem sucedida do ponto de vista estético até à data, de acordo com as fotografias e vídeos partilhados com os jornalistas presentes na conferência de imprensa.
Norris, que ainda está a recuperar no hospital e que não esteve presente na conferência de imprensa, é o primeiro transplante facial completo realizado nos EUA de forma a manter a sua visão.
Para assegurar que Richard Norris ficasse com as funções máximas da sua expressão facial e movimentos, os médicos deram-lhe uma língua nova para falar adequadamente, comer e mastigar, alinharam os dentes normalmente e fizeram a ligação dos nervos de forma a que pudesse sorrir.
Antes da cirurgia, Norris, que é solteiro e vive com os pais numa área rural, foi incapaz de encontrar emprego por causa da sua aparência, revelou o porta-voz do hospital.
O transplante foi "um feito incrível", afirmou o decano da Faculdade de Medicina, Albert Reece, durante a conferência de imprensa.
"É igualmente um procedimento inédito e histórico que acreditamos que irá mudar a imagem da Medicina no presente e no futuro", disse Reece.
Cerca de 100 médicos, investigadores e outro pessoal médico universitário, desde cirurgiões plásticos a especialistas crânio-faciais, juntaram-se para a cirurgia.
A operação envolveu dez anos de investigação financiada pelo Centro de Pesquisa Naval do Departamento de Defesa e servirá como modelo para ajudar veteranos da guerra feridos por artefactos explosivos no Afeganistão, informou a universidade.
Rodriguez felicitou o trabalho das equipas em todo o mundo que organizaram 22 transplantes faciais até à data, sem as quais - realçou - esta operação não teria sido possível.