Chama-se 'stalking' o novo crime que está a preocupar os psicólogos portugueses. É o assédio constante e permanente, feito pessoalmente, por telefone ou pela Internet, a mulheres e homens. O primeiro inquérito nacional começa agora.
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"É uma violação de privacidade e de assédio permanente às vítimas que, quase sempre, gera tanto medo que impede as pessoas de apresentaram queixa junto das forças de segurança", explica Marlene Matos, coordenadora do projecto "Stalking em Portugal: prevalência, impacto e intervenção".
O Centro de Investigação em psicologia, da Universidade do Minho (UM), começou há poucos anos a estudar o fenómeno da perseguição física e psicológica.
Para conhecer a dimensão efectiva do fenómeno em Portugal, ainda este mês começam a ser realizadas 1200 entrevistas, porta-a-porta, em todos os distritos do país, para averiguar a prevalência da vitimação por 'stalking'. "Esperamos que este estudo, o primeiro que engloba todo o país, contribua decisivamente para desocultar o fenómeno entre nós e encontrar formas úteis de actuação", frisou Marlene Matos.
A 'necessidade' de realizar um estudo nacional surgiu das conclusões obtidas em dois estudos efectuados pelo grupo de Psicologia da UM. Entre a população universitária, foram inquiridos 3529 estudantes, com idades entre os 18 e os 30 anos. Os resultados foram claros: 36% das mulheres e 29% dos homens inquiridos relataram ter sido alvo de assédio persistente.
Relação com o agressor
A maioria das vítimas, 48%, revelou ter ficado assustada e 18% assumiu ter sentido medo perante o 'stalking'. Um outro inquérito foi feito a 105 mulheres identificadas através do contacto com instituições de apoio à vítima. 52% das mulheres estiveram casadas com o agressor e, após a separação, foram vítimas de assédio permanente por parte dos ex-companheiros.
Entre os actos de controlo feitos pelos agressores, as mulheres destacam "ameaças com arma, agressões físicas, telefonemas indesejados, SMS, aparecer em locais frequentados por si, abordagens directas, esforços para vigiar ou controlar o seu comportamento". "Muitas das vítimas têm que mudar radicalmente a vida e mudar de casa, de emprego, mudar os filhos de escola ou alterar actos simples como por exemplo, mudar a paragem onde costumavam apanhar o autocarro", explicou Marlene Matos.
Legislação específica
"É necessário estudar o fenómeno para que seja criada legislação específica e adequada a este tipo de crime que, muitas vezes, se confunde com violência doméstica", disse a investigadora que quer colocar o assunto na agenda política e social portuguesa.
Perante a devassa da vida privada e ao assédio e perseguição, a vítima (homem ou mulher) não deve 'negociar' com o agressor. "Tem que pedir ajuda às autoridades, à família ou aos amigos porque não é normal nem natural uma pessoa estar a ser seguida, observada ou controlada por outra", finalizou Marlene Matos.
