Lançados primeiros satélites para dar acesso a internet a países desfavorecidos

Os quatro primeiros satélites da constelação O3b, que devem permitir um acesso à internet de alta velocidade a preços baratos a três mil milhões de habitantes de 180 países numericamente desfavorecidos, foram lançados na terça-feira.
O lançamento, anunciado pela sociedade Arianespace, ocorreu na Guiana Francesa, e foi feito com recurso a um foguetão Soyouz.
"A paciência é sempre recompensada. Os quatro primeiros satélites da constelação acabam de ser lançados pelo nosso lançador Soyouz", afirmou o presidente executivo da empresa, Stéphane Israel, no fim da operação que levou duas horas e 23 minutos.
"Foram as horas mais prolongadas da minha vida", disse o diretor geral da O3b Networks, Steve Collar, indicando que já tinha sido estabelecido contato com os quatro satélites.
"Sinto-me orgulhoso porque o lançamento desta noite é o quinto lançamento da Soyouz na Guiana, uma verdadeira lenda (...), e a O3b é a 33.ª sociedade de telecomunicações por satélite a escolher a Arianespace para as suas operações", acrescentou Israel.
Previsto inicialmente para segunda-feira, o lançamento tinha sido adiado por 24 horas, devido a fortes ventos sobre o centro espacial da Guiana.
Os quatro satélites foram transportados pelo lançador russo Soyouz, às 16.27 horas da Guiana Francesa (20.27 de Portugal continental). O primeiro par separou-se do foguetão duas horas depois da descolagem e o segundo 22 minutos mais tarde.
O3b é a abreviatura de "Other 3 billion" [em Português seria O3MM - Outros 3 Mil Milhões], relativo aos "outros três mil milhões" de indivíduos, habitantes de países do Sul, com ligações deficientes, os quais, sem meios nem infraestruturas, não têm um acesso fácil à internet, como nos países ricos.
A ideia germinou em 2007 no espírito do norte-americano Greg Wyler, fundador do operador de satélites O3b Networks. Pioneiro das redes de telefonia móvel 3G em África, Wyler encontrava-se no Ruanda, onde se confrontava com a mediocridade da rede de telecomunicações local.
Greg Wyler imaginou uma solução simples: em vez de espalhar infraestruturas caras no chão, como cabo ou fibra ótica, colocar em órbita em torno do Equador uma constelação de pequenos satélites para servir de intermediários espaciais entre os utilizadores e a internet, com a ajuda apenas de antenas parabólicas.
Esta órbita equatorial permite cobrir uma faixa de 45 graus a norte e outros tantos a sul, o que significa uma área que inclui a totalidade de África, quase toda a América Latina, o Médio Oriente, o Sudeste Asiático, a Austrália e a Oceânia, quase todos mercados emergentes sem ligação à internet.
Hoje já existem satélites geoestacionários, a 36 mil quilómetros de altitude, que fornecem este tipo de serviço, mas o seu custo de exploração é elevado, tal como a fatura final para o utilizador.
Concebidos pela Thales Alenia Space, os satélites O3b serão colocados a uma altitude de 8062 quilómetros. Mais pequenos e mais leves - cada um pesa 650 quilos, que comparam com o peso de quatro a seis toneladas dos geoestacionários -, comunicam com a Terra mais rapidamente, com um débito anunciado equivalente ao de uma fibra ótica terrestre e um custo reduzido entre 30 e 50%.
Está previsto o lançamento de outros quatro satélites O3b antes do final do ano, por outro foguetão Soyouz, a partir da Guiana, para completar a constelação.
