APortugal Telecom (PT) vai concorrer sem parceiros aos dois concursos da Televisão Digital Terrestre (TDT), cujo prazo para entrega de propostas termina hoje. Esta decisão decorre do facto de a empresa de telecomunicações ter acordado com a Media Capital (MC, proprietária da TVI) a compra da Reti, rede de distribuição analógica de sinal televisivo, aplacando assim quaisquer parcerias que a Media Capital pudesse efectuar com vista à distribuição do sinal digital.
A PT poderá juntar as duas redes existentes em Portugal, já que, recorde-se, é proprietária da Teledifusão de Portugal, que cobrava a distribuição do sinal da RTP e da SIC. Caso venha a ganhar o concurso, terá de investir na conversão das infraestruturas para o digital.
No âmbito desta decisão da PT foi também acordado com a RTP, SIC e TVI "os termos e as condições sob as quais a transmissão do sinal aberto dos quatro canais será feita durante o período de difusão simultânea, analógica e digital (simulcast), bem como a transmissão digital até ao final do período da licença", conforme se lê no comunicado ontem enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). O 'simulcast' é uma das fases da transição para o digital que mais preocupa as estações de sinal aberto, dada a multiplicação de custos.
No mesmo texto, a PT explica que este "acordo irá permitir a extracção de sinergias entre estas duas redes, bem como com as plataformas de IPTV e satélite da PT".
Ao vender a Reti, a Media Capital "desinteressa-se do concurso, pois o nosso negócio é a produção e exibição de conteúdos", explicou o presidente do Conselho de Administração da MC, Manuel Polanco. "Não há exemplo europeu de uma estação de televisão ser dona da sua rede de distribuição", contextualizou.
E a MC consegue também aliviar os custos da transição do analógico para o digital, que vai ter um período previsto de quatro anos com os dois sinais em simultâneo, como reconheceu Polanco "Não podemos falar pelos demais, apenas pela TVI, e nós temos um acordo em que o 'simulcast' será pago pela PT".
A venda da Reti à PT só será finalizada em 2012, ano do "apagão" analógico, também designado de "switch-off". Aquele administrador, que representa os interesses da castelhana Prisa, especificou que "a Reti não deixa de ser nossa, mas será gerida pela PT até ao switch-off".
O acordo entre PT e Media Capital prevê que no fim de 2011 "a Reti passará a fazer parte da rede da PT", sendo paga a tranche final deste negócio. Se a MC mantivesse a Reti, teria que custear a conversão tecnológica para o digital. Polanco lembrou que, em 2012, "a rede analógica já não terá nenhum interesse". Se a PT não vencer os concursos, "este acordo perde qualquer efeito", afirmou Polanco.
45 canais com a TDT
Com o lançamento da TDT, Portugal - que já vai bastante atrasado em relação a exemplos como Reino Unido e Espanha - alarga a oferta televisiva (ver infografia).
A PT candidata-se ao concurso para distribuição dos quatro canais de sinal aberto, que inclui o quinto canal autorizado pelo Governo socialista, cujo concurso será lançado daqui a 181 dias. E ao segundo concurso, relativo aos canais pagos, MuxB e C, que inclui canais regionais. A capacidade total de distribuição é de 45 canais. Este novo serviço é pago pelo utilizador, exige "set top box" (caixa) e irá concorrer com a oferta dos restantes operadores já no mercado. Neste momento, a ZON TVCabo detém 80% do comércio de televisão paga.
Só amanhã com a abertura das propostas se pode saber quem são os outros concorrentes.
Pinto Balsemão, dono da SIC, assim como Manuel Polanco, considera que a opção pelo quinto canal faz "Portugal perder o comboio da televisão de alta definição", pois a largura de banda digital não permite a tecnologia. Acrescenta o facto do quinto canal desestabilizar o mercado publicitário, já de si curto.
