
"Como é que um veículo destes pode entrar na promenade des Anglais quando estamos em pleno estado de emergência?"
EPA/FRANCK FERNANDES
Mohamed Bouhlel armou-se com um camião de 19 toneladas e investiu contra a multidão, em Nice. Disse à polícia que ia entregar gelados à festa e matou mais de 80 pessoas.
"Como é que um veículo destes pode entrar na Promenade des Anglais quando estamos em pleno estado de emergência?" A pergunta foi feita pelo antigo presidente da câmara de Nice, Christian Estrosi.
A resposta não é clara, mas alguns dados revelados permitem já perceber como atuou Mohamed. Segundo os jornais franceses, o trânsito estava cortado em alguns acessos à "promenade des Anglais" (Passeio dos Ingleses) desde as 15 horas de quinta-feira, dia feriado Nacional em França, para facilitar o acesso das pessoas à festa.
Foram instalados controlos policiais em alguns pontos do percurso junto mar, a zona mais procurada de Nice, onde estavam centrados os festejos e milhares de pessoas se divertiam enquanto esperavam pelo fogo-de-artifício.
Mohamed terá sido interpelado pela polícia, relata o canal de informação francês M6. Disse à polícia que ia levar gelados ao Passeio dos Ingleses e seguiu viagem. Aparentemente, sem problemas.
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Ao entrar na "promenade des Anglais", Mohamed acelerou a fundo, o que alertou a polícia. Há imagens de agentes da autoridade a disparar sobre o camião, quando começou a viagem mortífera junto ao mar, e de populares a tentarem travar o pesado, incluindo um motociclista que viria a ser atropelado.
O camião avançou pela estrada, subiu passeios para atingir aglomerados de pessoas, tendo atingido velocidades próximas dos 80 quilómetros por hora, segundo cálculos do jornal "Nice Matin".
Foram cerca de 45 segundos de de horror na "promenade des Anglais". Durante 2,3 quilómetros, o camião acelerou por entre a multidão. Crianças, mulheres - a primeira vítima era muçulmana - e homens foram colhidos pela fúria de Mohamed Lahouaiej Bouhlel.
"As pessoas voavam como pinos de bowling", resumiu um jornalista do Nice Matin, Damien Allemand, que estava no local. O ataque causou a morte a pelo menos 84 pessoas e deixou cerca de 50 entre a vida e a morte. Há, ainda, mais de 200 feridos, entre estes cerca de 50 crianças.
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Quatro dias de preparação
O ataque começou a ganhar corpo a 11 de junho. Mohamed, tunisino de 31 anos, motorista contratado numa empresa de entregas e residente em Nice, alugou o camião numa empresa em Saint-Laurent-du-Var. Disse que pretendia "fazer uma mudança de casa" e escolheu um camião frigorífico de 19 toneladas.
"Estamos chocados, alugamos camiões, não armas de guerra", disse um funcionário da empresa, sob o anonimato, em declarações ao jornal francês L'Express.
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Segundo o procurador de Paris, que está a liderar a investigação, o camião foi identificado em imagens de videovigilância a 13 de julho, na véspera do ataque, no quarteirão de Auriol, em Nice.
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Voltaria a ser visto já perto do local da carnificina. Segundo a investigação, Mohamed entrou no camião às 21.34 horas, cerca de 45 minutos antes de começar a matar pessoas.
Deslocou-se de bicicleta, que guardou na caixa de carga do camião. Assumiu o volante, ao que tudo indica sem qualquer companhia ou ajuda, e dirigiu-se para o Passeio dos Ingleses.
O pai de Mohamed, cuja identidade não foi revelada, disse à RTL que o filho fez tratamento para problemas psiquiátricos, mas que a "doença era muito mais grave".
