
MIGUEL GUTIERREZ/EPA
A situação na Venezuela é acompanhada pelos portugueses com preocupação, devido ao crescendo de confrontação e à escassez de bens.
Um empresário português radicado em Caracas, que não quis ser identificado, disse ao JN que considera muito difícil o estabelecimento de diálogo entre o Governo e a Oposição, mas não crê que ocorra um golpe de Estado.
Descrevendo a existência de filas para conseguir produtos, o emigrante disse discordar do presidente, Nicolás Maduro, que acusa donos de fábrica e de cadeias de distribuição de "guerra económica" através da paralisação da produção e de açambarcamento.
A insuficiência de bens e a paragem de fábricas deve-se à falta de divisas para importar matérias-primas, expressou. A situação é tal, assinalou, que um general chavista, já retirado, acaba de manifestar na Globovision a sua discordância.
Entrevistado naquela influente televisão, Cliver Alcalá Cordones disse que "votaria o (referendo) revogatório para conseguir uma mudança pacífica". Considerando que "o legado de Hugo Chávez" não desapareceu, mas é "muito mal administrado pelo presidente Maduro".
Igreja Católica entra na luta do referendo
Com a tensão a crescer na Venezuela - onde as palavras "violência" e "golpe" são uma constante nos discursos políticos e a Assembleia Nacional rejeitou a extensão do estado de emergência decretada pelo presidente da República -, a Igreja Católica defendeu ontem abertamente o referendo revogatório do mandato de Nicolás Maduro exigido pela Oposição.
"O referendo é um mecanismo que está na Constituição e o Governo disse que a nossa Constituição é a mais avançada", pelo que "devem cumprir-se as fases deste processo, que é legal", declarou o presidente da Conferência Episcopal Venezuelana.
Diego Padrón foi citado num artigo publicado na edição eletrónica do diário "El Nacional" após as manifestações convocadas pela coligação de Direita Mesa de Unidade Nacional (MUD), exigindo que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) dê andamento ao processo de verificação das assinaturas para a consulta popular.
Em Caracas, manifestantes ocuparam parte da Avenida do Libertador, no centro, onde o presidente do CNE, Luis Emilio Rondón, recebeu do líder da MUD, Henrique Capriles, um protesto contra irregularidades no processo.
A Polícia impediu participantes de se dirigirem à sede daquele órgão, na Praça da Venezuela, montando barreiras e chegando a usar gás lacrimogéneo. Noutros locais, grupos de manifestantes agrediram com bastões agentes em menor número que guarneciam passagens com bastões. Manifestações idênticas tiveram lugar junto de sedes regionais do CNE, mas não se conhecem estatísticas da mobilização.
Apoiantes bolivarianos concentram-se depois na Praça Diego Ibarra, num comício para explicar o alcance do decreto de Maduro que prolonga o estado de exceção, rejeitado anteontem na Assembleia Nacional, controlada pela Oposição. O diploma, sustenta, "aprofunda a grave alteração da ordem constitucional e democrática de que a Venezuela sofre".
"Se Maduro quer aplicar o decreto, que vá tirando os tanques de guerra", declarou o líder da Oposição, Henrique Capriles, dirigindo-se também, aos militares: "Digo à FAN (Força Armada Nacional) que está a chegar a hora da verdade. Não queremos uma solução militar, mas isto é inaceitável".
Em Lisboa, um dirigente do partido Primeiro Justiça (que integra a MUD), Angel Medina Davis, disse à agência Lusa que a situação pode degenerar "num confronto sem sentido" e que, "para evitar violência", é necessário que se "convoquem eleições". Também à Lusa, o ex-vice-presidente do Parlamento, Darío Vivas, do Partido Socialista Unido da Venezuela, advertiu que a direita "está a preparar um golpe de Estado", diretamente ou através de "uma intervenção de fora para o interior do país".
