
Hamad I Mohammed/reuters
A Arábia Saudita e outros cinco países árabes anunciaram, esta segunda-feira, o corte de relações com o Qatar e tomaram medidas para isolar o país, que nega as recorrentes acusações de apoio ao terrorismo.
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Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Egito, Iémen e Líbia, além das Maldivas, anunciaram sucessivamente o corte de relações sem exigir contrapartidas, criando a mais grave crise regional desde a guerra do Golfo de 1991.
Riade justificou a decisão com "o acolhimento pelo Qatar de vários grupos terroristas e sectários para desestabilizar a região", incluindo a Irmandade Muçulmana, a Al-Qaeda, o Estado Islâmico e grupos apoiados pelo Irão.
O Cairo acusou Doha de ter uma "abordagem antagonista" e afirmou que "todas as tentativas para o impedir de apoiar grupos terroristas falharam", dando ao embaixador do Qatar 48 horas para abandonar o Egito e chamando o seu encarregado de negócios em Doha.
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O corte de relações é associado a medidas que implicam o isolamento do Qatar, anfitrião do Mundial de Futebol 2022, com o encerramento de fronteiras terrestres e marítimas, proibições de sobrevoo e restrições à deslocação de pessoas. Sete companhias aéreas anunciaram a suspensão dos voos de e para Doha.
A diplomacia do Qatar considerou-as injustificadas e baseadas em alegações e pressupostos falsos: o Qatar "não interfere nos assuntos alheios" e "luta contra o terrorismo e o extremismo", afirmou o emir, xeque Tamim Ben Hamad Al-Thani.
Depois de a bolsa de Doha fechar em baixa nos 7,58%, Doha acusou os países envolvidos de violarem a sua soberania.
O corte de relações diplomáticas culmina anos de tensões na aliança entre os produtores de petróleo do Golfo e reflete uma irritação crescente dos países vizinhos com o apoio do Qatar a organizações que os outros Estados árabes consideram terroristas.
Alguns analistas relacionam também o agravamento da situação com a recente viagem do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, à região, marcada pelo reforço dos laços com a Arábia Saudita e pelo apelo aos líderes árabes para que assumam a luta contra o terrorismo.
Dias depois da visita, o Qatar anunciou que a sua agência oficial, QNA, foi "pirateada por uma entidade desconhecida" e que "declarações falsas", sobre o Irão, o Hezbollah, o Hamas e a Irmandade Muçulmana, foram atribuídas ao emir.
Apesar dos desmentidos de Doha, as declarações foram divulgadas pela maioria dos meios de comunicação da região. No dia seguinte, o jornal Al-Bayan, dos Emirados, escrevia em manchete "O Qatar divide os árabes" e o saudita Al-Hayat que as declarações atribuídas ao emir provocaram "uma indignação em grande escala".
As acusações ao Qatar de apoio ao terrorismo são recorrentes, mas Doha nega-as.
O Qatar acolhe no seu território dirigentes do Hamas -- Khaled Meshaal -- e da Irmandade Muçulmana -- como Yussef al-Qaradaoui -, consideradas organizações terroristas pelos países vizinhos.
O país é também acusado de laxismo na luta contra o financiamento do terrorismo através de fundos privados.
Em 2010, um texto diplomático dos Estados Unidos divulgado pela Wikileaks apontava o Qatar como "o pior da região" em matéria de cooperação com Washington contra o financiamento do terrorismo.
A mesma acusação foi feita por dirigentes franceses após o atentado de 2015 contra o jornal satírico Charlie Hebdo.
