Vários portugueses foram apanhados pela confusão do atentado terrorista em Barcelona.
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Poucos segundos após o atentado, Catarina Trindade estava a dirigir-se para as Ramblas, em Barcelona. A jovem portuguesa a trabalhar naquela cidade espanhola conta que "foi um horror" o cenário que se sucedeu ao atentado, com "toda a gente a fugir sem se saber o que fazer".
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Catarina, natural de Vila das Aves, concelho de Santo Tirso, tinha saído do trabalho e estava a poucos metros das Ramblas quando se deu o atentado: "Tinha acabado de sair do trabalho e estava a descer a pé em direção às Ramblas quando vi muita polícia e toda a gente a fugir".
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Inicialmente viu cinco polícias sem farda que estavam a mandar evacuar o espaço. Depois cortaram as principais ruas de acesso ao espaço do atentado. Entretanto chegavam "muitos carros da polícia" e "muitas ambulâncias".
A principal perceção que teve foi que "ninguém sabia muito bem o que fazer" e os próprios polícias "notava-se que estavam nervosos". As pessoas "falavam de tiroteio, de atentado, havia uma incerteza grande", acrescenta a jovem de 23 anos.
Ao ver toda a gente a fugir, Catarina fugiu também, através de uma rua secundária em direção à casa onde mora, no centro de Barcelona, mas afastada do local do atentado. Agora está em casa, em segurança, embora as principais ruas de acesso ao centro da cidade estejam cortadas.
Marta Nunes, professora do Porto, estava de visita à filha que trabalha em Barcelona e decidiu passear pela Rambla. A sua sorte, como explica, é que estava a subir a Rambla, sem ser pelo corredor central.
"Estávamos a passear, pela lateral e de repente olho para uma mulher que estava a chorar, bastante histérica, ouviu-se um ruído de vidros a partir e alguém gritava, em francês, 'é um atropelamento'. Mas, como não via grande aparato, continuei a subir a Rambla porque não me parecia nada de especial, entrei numa gelataria e comecei a ver demasiadas pessoas a gritar e então disseram-me que era um atentado terrorista e foi horrível a série de ambulâncias e de carros de polícia a entrar e a cortar as ramblas", descreve ainda estupefacta.
Ao presenciar semelhante cenário, a sua preocupação foi ir ao encontro da filha, tarefa dificultada pelo corte dos transportes públicos. Só na estação de Sants, um pouco mais afastada do centro, conseguiram reencontrar-se. Esta quinta-feira ao final da tarde, já todos reunidos só tinham uma preocupação "estar juntos e permanecer a salvo".
Leonor Castro, da Covilhã, é dona do espaço A Casa Portuguesa, no coração do Bairro da Grácia, onde decorriam, por estes dias, as tradicionais festividades.
"Uma espécie de Santo António com milhares de pessoas na rua", explica a dona que há mais de uma década oferece aos catalães as melhores iguarias portuguesas. De repente, na tarde desta quinta-feira, a cidade tornou-se fantasma. "Não há ninguém na rua, nós temos o nosso espaço aberto, mas estamos bastante assustados, há uma grande tensão e foram cancelados todos os eventos programados", descreve a comerciante.
"Eu, de momento ainda tenho a loja aberta, porque estamos um pouco afastados do centro, mas há muitos negócios fechados e uma grande incerteza", explica. Os metros estão todos fechados.
Miguel Pinto, de Lamego, trabalha há seis meses no Hotel Meridien, no coração da Rambla. "Ninguém pode entrar nem sair, há também medo que haja bombas no metro, já que toda a gente está a usá-lo para sair do centro da cidade", explica.
Este atentado, para o jovem, não é uma surpresa. "Já estava à espera que uma coisa destas acontecesse, não se sabia se com bomba ou com um carro, mais cedo ou mais tarde estava à espera que acontecesse", vaticina.
"Estamos bastante assustados, há imenso controle da polícia aqui, até porque eles já estavam habituados, mas não podem estar em todo o lado ao mesmo tempo e hoje não estava", conta com a voz trémula. "Não tenho medo, mas tenho muito receio", conta.
"Graças a Deus", foi a exclamação de Maria Bessa Monteiro quando soube que a irmã, que a tinha ido visitar a Barcelona, estava bem. "Mandou-me mensagem às 16.15 a dizer que estava nas Ramblas. Quando eu soube do atentado, ela não me atendia o telefone", conta ao JN a farmacêutica portuguesa.
Felizmente, "à última da hora decidiu subir ao Tibidabo", um parque próximo ao bairro de Saint Gervasi, no norte de Barcelona, onde Maria vive.
A fazer compras quando tomou conhecimento do atropelamento coletivo, não hesitou em ir diretamente para casa. "Daqui não saio!" desabafa.
Como a zona é residencial, "o bairro está calmo", mas o ruído constante das ambulâncias e dos carros de polícia denuncia o ambiente de tensão. Ali perto, no bairro da Gràcia, a noite devia dar lugar às esperadas festas populares que todos os anos juntam milhares de pessoas. Desta vez, todos os atos foram cancelados, numa cidade em luto.