
Presidente turco anuncia purga no Exército após golpe falhado
SEDAT SUNA
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, aterrou em Istambul de madrugada e anunciou o fim da tentativa de golpe de Estado. "A traição não será perdoada". Há registo de 265 mortos.
As televisões turcas mostraram o avião do chefe de Estado, que estava de férias em Marmaris, no sul da Turquia, a aterrar na pista do aeroporto internacional Atatürk, o maior do país. Foi recebido e saudado por centenas de pessoas, menos de seis horas depois de ter começado uma tentativa de golpe Estado conduzida por aquilo que classificou como "uma fação" dos militares, alegadamente liderada pelo clérigo Fethullah Gülen, que reside nos EUA e que, entretanto, negou categoricamente estar ligado à tentativa de derrubar Ergodan.
Os autores vão pagar um preço elevado, a traição não será perdoada
O movimento que apoia Gülen (Hizmet) e o próprio Fethullah Gülen condenaram o golpe em dois comunicados. "Tendo sido alvo de múltiplos golpes de estado militares ao longo de cinco décadas é especialmente insultuoso ser acusado de estar ligado a esta intentona. Nego categoricamente estas acusações", disse Gülen, no comunicado mais recente.
O movimento que apoia Gülen (Hizmet) sublinhou inicialmente que "há mais de 40 anos que Fethullah Gulen e o Hizmet têm defendido e demonstraram o seu compromisso com a paz e a democracia".
Este sábado, Erdogan apelou aos Estados Unidos para que extraditem o imã Fethullah Gulen, de forma a enfrentar a justiça turca.
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Erdogan voltou a dirigir-se ao país, duas horas depois de chegar a Istambul, para garantir que continua no poder, assim como o Governo, depois da rendição, em Istambul, de uma unidade do exército que participou na tentativa de golpe de estado.
Na primeira vez que falou em Istambul, de madrugada, numa comunicação ao país feita ainda do aeroporto de Ataturk, e interrompida pelo som de uma explosão nas imediações, Erdogan apelou aos oficiais insurgentes que ainda resistiam para deporem as armas e considerou terminada a tentativa de golpe de Estado.
"Os autores vão pagar um preço elevado, a traição não será perdoada", disse Erdogan, sustentando que a tentativa de golpe de Estado foi uma "bênção de Alá, porque vai permitir fazer uma purga entre os militares."
"Há na Turquia um Governo e um presidente eleitos pelo povo, que estão no poder, e, se Deus quiser, vamos superar esta provação", afirmou, antes de felicitar os turcos por terem saído "aos milhões" para as ruas para defender a nação.
Alterações legais para permitir a pena de morte
Esta manhã, em conferência de imprensa, Binali Yildirum, o primeiro-ministro turco, disse que estão a ser consideradas alterações legais que permitam a pena de morte para os que lideraram o golpe. A Constituição turca não prevê a aplicação da pena de morte.
O presidente turco falou em "vitória do povo", considerando fundamental a saída da população para as ruas, seguindo um apelo do próprio, feito a partir de Marmaris. Já em Istambul, disse que o hotel em que estava a passar férias foi bombardeado depois de sair.
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A população saiu à rua e vários civis morreram ou ficaram feridos em Istambul durante o caos gerado pela tentativa de golpe militar posta em marcha na Turquia.
O primeiro-ministro turco disse, este sábado de manhã, que a situação na Turquia "está completamente sob controlo", adiantando que 161 civis morreram na tentativa de golpe de Estado. Há ainda indicação de 104 mortos entre os elementos do exército que participaram na tentativa de depor Erdogan.
Dos acontecimentos de sexta-feira à noite há também registo de 1440 feridos e 2893 militares detidos, suspeitos de envolvimento na tentativa de golpe.
A polícia turca prendeu também, este sábado, 10 juízes do Danistay, um dos órgãos supremos da Justiça da Turquia e a autoridade máxima para contenciosos administrativos.
Num discurso ao país no palácio Cankaya, a residência oficial do primeiro-ministro, Binali Yildirim classificou o golpe de Estado falhado como uma "mancha negra" na democracia turca, acrescentando que foram evitados "problemas sérios".
O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, anunciou que não existem "notícias preocupantes" sobre portugueses na Turquia, salientando que a embaixada lusa em Ancara "está a trabalhar ativamente" e que houve "contactos" por parte de portugueses com a representação diplomática na capital turca.
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Os meios de comunicação social turcos indicaram que militares dispararam contra a multidão que protestava contra a intentona e tentava atravessar uma das pontes que unem a parte asiática da cidade à europeia, e que havia sido tomada pelos golpistas.
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Foram ainda contabilizados pelo menos 12 feridos, incluindo dois em estado grave, na sequência do bombardeamento do parlamento turco, em Ancara, por parte dos rebeldes. Também na capital foram mortos 17 polícias numa explosão na sede das forças especiais.
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Pouco antes da chegada de Erdogan a Istambul, o porta-voz da presidência turca, Ibrahim Kalin, assegurou que a cadeia de comando estava a voltar à ordem, apesar da tentativa de golpe de estado militar posta em marcha na sexta-feira à noite.
O aeroporto de Atatürk, em Istambul, o maior da Turquia e o terceiro maior da Europa, esteve paralisado na sequência da intentona golpista desta noite, mas entretanto os militares que o ocuparam retiraram-se e milhares de manifestantes contrários aos golpistas entraram no edifício.
Cerca das 2 horas da madrugada, a Agência de Controlo de Tráfego Aéreo Europeu, a Eurocontrol, anunciou que os voos seriam retomados imediatamente do aeroporto de Ataturk, após várias horas de voos suspensos.
Fracasso declarado após seis horas
A tentativa de golpe de Estado militar começou na sexta-feira à noite na Turquia. Os militares tomaram conta da televisão pública local, a TRT, que esteve temporariamente sem emissão e emitiram um comunicado, classificando o presidente turco, o islamista Recep Tayyip Erdogan, como um "traidor" e acusando-o de ter estabelecido um "regime autoritário de medo".
Sob as ordens de Erdogan, "todas as instituições do estado começam a ser desenhadas com propósito ideológico e o império da Lei secular foi, de facto, eliminado", prossegue o comunicado, que os golpistas queriam replicado em todas as emissoras turcas.
Os militares tentaram calar as redes sociais, mas não conseguiram. Os militares cortaram o acesso às pontes sobre o Bósforo, que liga a Europa e Ásia, e tomaram posições em vários locais de Ancara, a capital, e de Istambul.
O presidente turco aterrou em Istambul cerca da 3.30 horas desta madrugada (1.30 horas em Portugal continental), um sinal de que o golpe estava em vias de fracassar. Pouco depois, anunciou "o fracasso" da intentona, menos de seis horas após ter começado, e apesar de ainda persistirem algumas bolsas de resistência.
Erdogan culpou pelo golpe de Estado, que definiu de "traição", os apoiantes do seu arqui-inimigo, Fethullah Gülen, um imã exilado há anos nos Estados Unidos.
O fundador do poderoso Movimento Gülen, com milhões de seguidores na Turquia, entrou em rutura, em 2013, com Erdogan e o seu Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, no poder desde 2002), que apoiou na fase inicial da sua ascensão.
Seguiu-se uma dramática luta pelo poder e o início da repressão ao Hizmet no país - acusado por Erdogan de pretender construir um "Estado paralelo" - através do encerramento de dezenas de escolas e processos judiciais contra figuras políticas e militares associadas a este movimento.
* com Lusa
