
As relações entre Putin e Obama nunca estiveram tão tensas
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Moscovo afirma-se como protagonista principal na cena internacional. Anunciou esta quinta-feira a suspensão do conflito na Síria
Foi o próprio Vladimir Putin a anunciá-lo: a Rússia e a Turquia conseguiram que o Governo sírio e os rebeldes (exceto os "terroristas") acordassem um cessar-fogo, que deve ter arrancado às zero horas desta sexta-feira em todo o território sírio. O Presidente russo marcou a posição: foi a entrada da Rússia em cena que marcou a viragem num conflito com meio milhão de mortos e milhões de refugiados em seis anos. E que acabou com o grande reduto urbano rebelde que o Presidente Bashar al-Assad penava em recuperar, Alepo.
Um quarto de século depois de o fim da União Soviética ditar o recolhimento russo para questões internas, Putin marca o regresso à ribalta. E à determinação de cenários mundiais. Os avanços, ainda que tímidos, numa solução síria deixaram totalmente à margem a chamada "comunidade internacional" - que junta Estados ocidentais sob o chapéu dos EUA. Além de Moscovo, aliado, com o Irão, do xiita Bashar al-Assad, foi a Turquia, representantes de parte dos rebeldes sírios (Ancara defende a saída do líder sírio, como a NATO a que pertence, até por receio do fortalecimento dos curdos sírios e do ânimo que isso daria aos curdos turcos), que negociou a acordo. Ao arrepio dos restantes membros da mesma NATO, dos EUA a quem cede bases para ataques ao grupo terrorista autodesignado Estado Islâmico (EI), da União Europeia com quem negoceia uma adesão e gere os refugiados sírios mas da qual já disse que não precisava assim tanto.
Frágil, avisa o Kremlin
Ora, enquanto em Ancara o Presidente Recep Tayyip Erdogan falava esta quinta-feira em "oportunidade histórica", em Moscovo, Putin relevava a fragilidade do acordo de cessar-fogo. Porque os sete grupos representando 62 mil rebeldes que aceitaram não incluem os classificados como "terroristas".
São eles o óbvio EI, mas também os membros da Jabhat Fatah al-Sham - a antiga Frente al-Nusra, que mudou de nome depois de anunciar a sua desvinculação da al-Qaeda. A mesma que integra o conjunto dos rebeldes e constitui, segundo várias fontes, o seu maior poder militar. De foram estão também as Unidades de Defesa do Povo - os curdos YPG, parceiros importantes dos EUA na luta contra o EI, que controlam boa parte do norte da Síria e do Iraque e são classificados como terroristas pela Turquia.
Com a queda da parte oriental de Alepo, cercada ao longo de meses, os rebeldes ficam de certa forma confinados à província de Idlib, onde existem núcleos leais ao Governo de Damasco, o que faz temer pelo prosseguimento do conflito.
Com o acordo quanto à trégua, às medidas para a verificação do seu cumprimento e à disposição para negociar a paz, os negociadores - a Rússia - esperam conduzir a Síria até à solução política do conflito. Como pediu a ONU, onde Moscovo vetou muitas resoluções sobre Alepo. As negociações arrancam a 20 de janeiro, no Cazaquistão. "Evolução positiva" e "bem-vinda", reagiu lapidarmente Washington.
