
Rodrigo Cunha, do Centro de Neurociências e Biologia Celular e da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra
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Estudo inédito, coordenado por português, é um avanço para combater a doença.
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A investigação abre portas ao desenvolvimento de estratégias de combate à doença de Alzheimer. Foi testada em ratinhos de laboratório, mas poderá ser explorada em humanos. Depois de três anos de experiências, uma equipa de 15 investigadores portugueses e franceses conseguiu eliminar os primeiros sintomas da Alzheimer em animais. Trata-se de um estudo inédito, focado nas perturbações de memória, e que dá indicações para futuras estratégias de combate à doença.
Rodrigo Cunha, do Centro de Neurociências e Biologia Celular e da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, coordenou a investigação e defende o avanço de ensaios clínicos em humanos. Se assim não for, será um desperdício a vários níveis. "Toda e qualquer possibilidade de tentar preservar um, dois, três anos, a qualidade do desempenho de memória, não tem preço", refere ao JN. Há ainda os custos associados a esta doença, e que saem dos bolsos dos contribuintes, e o desgaste de quem cuida dos pacientes de Alzheimer. "Há uma esperança muito realista de combater esta doença", refere.
Em três anos de experiência, os cientistas acompanharam com muita atenção o processo de retenção de informação no cérebro. "A informação saltita de neurónio para neurónio, há informação que eliminamos, há informação que retemos". O hipocampo entra em cena para gerir o gigantesco centro de informação recebido pelo cérebro e selecionar, entre milhões de sinais recebidos, o que é relevante com uma espécie de "carimbo de qualidade". Se há falhas, toda a informação passa a ser irrelevante.
Os investigadores detetaram a falha com o funcionamento excessivo de recetores envolvidos na comunicação cerebral, modificaram dois genes que causam a doença, produziram e administraram um "vírus" em ratos e os primeiros sintomas de Alzheimer foram então eliminados. "Quando o recetor A2A tem um funcionamento excessivo, o hipocampo é incapaz de separar a informação relevante da não relevante, mas bloqueando este processo tudo volta à normalidade", especifica. Ao interferir com esse recetor, que funciona como uma antena que recebe informação, os sintomas desaparecem.
O estudo está publicado na revista científica "Nature Communications" e foi financiado pelo Prémio Mantero Belard de Neurociências da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e pela Association Nationale de Recherche de França.
