
José Luís Costa lidera a equipa do IPATIMUP que testa este procedimento em Portugal
João Manuel Ribeiro/Global Imagens
A biópsia líquida, que consiste numa análise específica ao sangue, é um dos temas quentes da ciência.
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Basicamente, permite diagnosticar e acompanhar um tumor sem ser preciso espetar agulhas como numa biópsia tradicional, isto é, sem ser invasivo para o doente. Este será o tema do próximo Porto Cancer Meeting, que decorrerá na Invicta, nos próximos dias 11 e 12 de maio, com cientistas de todo o Mundo.
Em Portugal, só o Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP) está a testar este procedimento e apenas no cancro do pulmão. Atualmente já recebe pedidos de alguns hospitais - tendo sido o Hospital de S. João o seu primeiro parceiro - para analisar as colheitas de sangue que aqueles recolheram aos seus pacientes.
Depois de algumas centenas de análises, a equipa do IPATIMUP, liderada por José Luís Costa, verificou que este método é eficaz e que poderá poupar muito dinheiro ao Estado, se fosse democratizado. Isto mesmo será dito no Porto Cancer Meeting.
"Num doente com o cancro já muito metastizado e no qual já não se pode fazer a biópsia tradicional, porque não se pode andar a espetar agulhas em todas as metástases, o que acontece, atualmente, é que se testam tratamentos até acertar. Isso custa muito dinheiro. Com a biópsia líquida, teremos uma representação de todas as lesões e podemos perceber logo qual o melhor tratamento", explica o cientista José Luís Costa.
Numa comparação entre a biópsia líquida feita a 300 pacientes e a biópsia tradicional (em que se extrai com uma agulha o tecido tumoral), feita aos mesmos doentes, verificou-se que "quando comparados os resultados, há uma enorme concordância, ou seja, a líquida não falha", acrescenta. Esta eficácia verifica-se tanto no diagnóstico, como no acompanhamento.
Além disto, "com este procedimento consegue antecipar-se, em muitos casos, a progressão de um tumor". Isto é, antes do paciente começar a demonstrar sintomas do regresso do mesmo, como tossir, "já a biópsia consegue detetar alterações no DNA livre em circulação no sangue", especifica o investigador.
O que se ambiciona, "num futuro muito longínquo", é a deteção precoce. "Ainda está muito longe de ser concretizado, mas é o sonho do futuro, que significa fazer disso uma análise normal, em que acabamos por detetar a doença muito antes dela se manifestar. É a medicina preventiva, que poupa muito dinheiro", sublinha.
José Luís Costa afirma que "nada disto está democratizado em Portugal", mas que "faria todo o sentido se existissem centros de referência para esta matéria, talvez um em Lisboa, outro no Porto e ainda um terceiro no Algarve". Basicamente, os hospitais enviariam as colheitas de sangue dos seus pacientes para estes centros, que depois olhariam para elas e iriam à procura das mutações específicas do tumor em causa.
O tema será amplamente discutido nos dias 11 e 12, no Porto Cancer Meeting, onde estarão presentes os cientistas Raghu Kalluri, que faz investigação na Universidade do Texas, nos Estados Unidos; Emmanuel Antonarakis, que investiga no Hospital de Sidney, na Austrália; e Caroline Dive, de Manchester, dos EUA.
