Corpo do artigo
O tempo corre, valha-nos Deus, como corre! Íamos a meio de 2016 quando um simples jogo para telemóveis pareceu enlouquecer o Mundo, prestes a acabar. Ocupou-nos horas e desoras de noticiários. Pessoas aos magotes, caminhando como zombies, invadiam praças, museus, estações, por vezes os lugares mais estranhos, à caça de Pokémon, Pikachu e outros monstrinhos virtuais que nos entraram pelo verão adentro. Em poucos dias, o videojogo da realidade aumentada foi carregado na memória de mais de 200 milhões de smartphones e fez disparar os lucros da sua empresa criadora, a japonesa Nintendo. Aqui e acolá houve acidentes e tumultos, e até as polícias emitiram advertências. Depois, aconteceu o previsível: passou o verão, acabaram-se as férias, voltaram horários e obrigações, a Nintendo caiu em bolsa, o Pokémon passou, como passam todas as modas. Os que só queriam provar a novidade acabaram por apagar a aplicação e substituí-la por outras mais recentes, nos telemóveis. Os verdadeiros jogadores, esses, continuam o jogo, ainda que fora ou atrás das câmaras.
Assim é também, por vezes, na política, quando por conveniência tática se procura confundir o real e a fantasia. Há um ano, por esta altura, o ar que se respirava era bem outro, carregado. Cavaco despedia-se de Belém, Marcelo ainda não tomara posse. Entre nós, era tão quimera a hipótese de sermos campeões europeus de futebol quanto a probabilidade de sobrevivência da solução que conduzira Costa ao Governo. E mais ainda quanto às hipóteses de sucesso das suas políticas perante as exigências de Bruxelas. Por cá, pairavam o espetro das sanções por incumprimento do défice, o fantasma da suspensão dos fundos estruturais da União e a ameaça de novo resgate - enfim, os demónios de sempre. E Passos chegou mesmo a prenunciar o Diabo para depois do verão.
Agora, fechadas as contas de 2016, os resultados desmentem os maus agoiros e superam todas as expectativas: o défice de 2,1% é o mais baixo de toda a nossa história democrática; a economia, ainda que timidamente, volta a crescer; as exportações animam; o investimento regressa devagarinho; o desemprego está em mínimos desde 2009; o índice de confiança dos consumidores está em máximos de 17 anos; e Portugal fica em condições de se libertar do Procedimento por Défices Excessivos, diante dos seus parceiros da União Europeia. Afinal, havia mesmo alternativa. E, pela amostra, eu desconfio que a Oposição, distraída das sondagens, continua entretida entre o real e a fantasia, à procura dos Pikachu.
DIRETOR