Um novo olhar para a floresta e o território
Os incêndios florestais têm sido o tema principal deste verão, deixando marcas desoladoras nas populações e no território. No passado fim de semana, a área ardida superou os cem mil hectares, representando Portugal metade da área ardida na União Europeia. Os níveis elevados de precipitação da primavera atrasaram a época de fogos, mas a previsão de um verão longo e seco tornava expectável esta situação. Após o rescaldo deste cenário dantesco a que temos assistido, é crucial um entendimento alargado entre os decisores políticos, envolvendo todos os agentes da área na correção de políticas erradas do passado.
Inspiro-me no artigo de Rui Vieira Nery intitulado "uma cidadania científica partilhada" publicado na Imprensa no início de agosto, que sublinha a falácia dos critérios de pretensa "utilidade económica" de algumas políticas científicas e o impacto da crise económica que conduziu à diminuição do investimento em investigação e desenvolvimento, afetando sobretudo áreas científicas de menor suscetibilidade e de autossustentação no mercado.
Hoje, mais do que nunca, é preciso delinear novos caminhos para a investigação e desenvolvimento em Portugal e no mundo, na senda do legado deixado por José Mariano Gago. No contexto social e político que atravessamos marcado por um populismo propício a explorar uma crescente desvalorização do papel do conhecimento, a resposta da comunidade científica deve ser, obrigatoriamente, assumida de forma conjunta e envolver as diversas áreas do saber, da investigação e da reflexão.
Precisamos de pensar fora dos formatos rígidos em que tantas vezes nos deixamos enredar. As ideias novas estão na fronteira, porque esse é o local de diálogo e de encontros. É neste contexto que deve ser pensada uma nova agenda para a floresta, envolvendo de modo holístico as questões do ordenamento, da gestão florestal e da prevenção de incêndios, contrariando as políticas públicas seguidas focalizadas no combate aos fogos.
Esta agenda deve também dar mais relevo a profissões que estão em "desuso", mas de enorme relevância para o país. Refiro-me à engenharia florestal que tem tido uma reduzida procura pelos jovens, não obstante a sua importância na definição e implementação de modelos de silvicultura preventiva, que tornem a floresta mais resistente e resiliente ao fogo.
O futuro da floresta convoca ao envolvimento do sistema científico e do conhecimento, enquanto fator estratégico e competitivo da sociedade contemporânea, no qual os engenheiros florestais devem ter uma maior intervenção.
REITOR DA UTAD
