Se a situação não fosse tão trágica, estaríamos aqui a rir à gargalhada. O aproveitamento político que se está a fazer de 64 mortos no incêndio mais devastador de sempre em Portugal não justifica tudo. O líder do PSD, Pedro Passos Coelho, emaranhado numa luta autárquica em Pedrógão Grande, voltou a fazer das suas. E as desculpas não chegam.
Que venha aí o Diabo, ok. Mas levantar boatos do mais soez que existe para conseguir dividendos políticos é o limite. O líder da Oposição não pode, não deve, proferir declarações sobre o que de mais íntimo há nos cidadãos - como o suicídio - se não tiver a certeza absoluta dos factos. E, mesmo assim, deve ir com cautela.
Dizer que tem conhecimento "de que há vítimas indiretas, pessoas que puseram termo à vida, que em desespero se suicidaram, que não receberam apoio em tempo devido" na resposta ao incêndio de Pedrógão Grande é de uma grande irresponsabilidade. É um suicídio político.
Depois destas declarações, o anónimo João Marques, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Pedrógão Grande e candidato à Autarquia pelo PSD, veio fazer um ato de contrição: "Fui eu que dei ao dr. Passos Coelho uma informação errada. Peço-lhe desculpas públicas por isso". Sim, bem pode, mas não iliba Passos Coelho de se pronunciar sobre este tema sem fazer um cruzamento de informação. Quis o líder do PSD saber quem foram essas pessoas? Perante mais uma tragédia, o mínimo que se podia pedir a Passos é que tentasse saber das famílias dos "suicidas-fantasmas". Tentou nas várias instituições saber de algum caso de suicídio na região? Tudo aponta para que não.
Em ano de eleições autárquicas, por vezes ultrapassam-se os limites do que é moralmente aceitável. Utilizar a desgraça das pessoas para conseguir votos é do mais rasteiro e triste que há. João Marques já foi presidente da Câmara de Pedrógão e saiu há quatro anos por limite de mandatos . Na altura, o PSD escolheu Valdemar Alves, que ganhou as eleições e é atualmente o presidente da Autarquia.
Voltemos ao presente: O PSD escolheu João Marques como seu candidato para as eleições de outubro e, Valdemar Alves, social-democrata convicto, não gostou. Resultado: Valdemar Alves é o candidato do PS como independente. Estão explicadas as declarações boateiras de Passos Coelho e João Marques? Sim. E era necessário? Não.
* EDITOR-EXECUTIVO
