O crescimento económico tem sido apresentado como o remédio milagroso para todos os males da economia. Mais crescimento diminui o peso da dívida e do défice no Produto Interno Bruto (PIB), significa mais atividade económica e, portanto, mais emprego, mais impostos e mais recursos disponíveis para consumo e investimento. Mais consumo significa maior nível de satisfação da população e mais investimento significa maior crescimento futuro. Até aqui todos de acordo!
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Sendo um remédio tão eficaz, não admira que se discutam os motores do crescimento. Em Portugal há uma corrente de autores/comentadores ignorantes ou desonestos que apontam como causa do crescimento económico a procura. Esse contexto analítico de curto prazo é claramente errado para avaliar a problemática estrutural da sustentabilidade do crescimento, refletida no andamento do PIB real natural e não do PIB real efetivo. Este último pode crescer por mero efeito cíclico, algo que não é, obviamente, sustentável!
Quais são então os verdadeiros motores do crescimento sustentável? São a (melhoria da) qualidade das instituições, e a quantidade e qualidade dos fatores produtivos, em particular, do trabalho e do capital físico. Quanto ao trabalho, a quantidade depende da taxa de natalidade e da imigração, e a qualidade depende da formação/educação. Quanto ao capital físico, a quantidade depende do investimento em formação bruta de capital físico e a qualidade depende do progresso tecnológico.
Clarificados os conceitos, será que o suposto espetacular crescimento do último trimestre é sustentável? Obviamente que não! Trata-se do andamento cíclico do PIB real efetivo, que decorre muito da conjuntura dos nossos principais parceiros comerciais (Espanha, à cabeça), da ajuda brutal do Banco Central Europeu, do turismo e do efeito autárquicas. E não é assim tão espetacular face ao que sucede na vizinha Espanha que, no essencial, seguimos por baixo. Por falar em Espanha, a taxa de crescimento média do período 2004-2016 foi de 1,2%/ano e em Portugal foi de 0,2%/ano. Com essas taxas, o PIB real duplicará em Espanha ao fim de 57,7 anos e em Portugal, imagine-se, ao fim de 346,6 anos!
Será que algum dos "verdadeiros" motores do crescimento se alterou recentemente? Não creio! Não melhorou a qualidade das instituições (por exemplo, um estudo recente do OBEGEF revela que, para os portugueses, a fraude aumentou no último ano), nem a taxa de natalidade, a educação, o nível de investimento ou o progresso técnico.
Creio que quem faz opinião deve falar do que sabe e ser honesto. A propósito desta temática, num programa recente de rádio no canal público Antena 1, um tal PAS defendeu a tese de que, no período pré-falência, a grande reforma estrutural foi a destruição da economia, mas que o crescimento atual revela que as coisas estão a ir bem. Estarão?! Mas então a economia não tinha sido destruída?!
* PRESIDENTE DO OBSERVATÓRIO DE ECONOMIA E GESTÃO DE FRAUDE
