A alimentação inadequada é o principal determinante de anos de vida saudável perdidos pelos portugueses.
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Muitas das doenças crónicas que hoje atingem mais de 50% das famílias portuguesas devem-se a uma alimentação com excesso de sal, açúcar e energia e pobre em fruta e hortícolas. E muitos destes hábitos alimentares adquirem-se desde a nascença e consolidam-se nos primeiros anos de vida, não mais nos abandonando.
Sabemos hoje que os alimentos disponíveis na escola e os hábitos alimentares dos pais ou encarregados de educação são mais importantes do que tudo o resto, dos 2 aos 4 anos, e depois nos primeiros anos de escola. Assim sendo, e neste início de ano letivo, o Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (www.nutrimento.pt) e a DGS identificaram um conjunto de boas práticas, que podem ajudar a promover a saúde alimentar em ambiente escolar:
As ementas da escola devem estar sempre afixadas, semanalmente, em locais visíveis e descrever com algum detalhe o que será servido;
Na descrição das ementas deve ser possível perceber o que vai ser servido. Devem ser evitados nomes como "salada colorida" ou "arroz à moda da tia Rosa" que impedem uma fácil perceção dos alimentos servidos nesse dia;
No refeitório, o espaço deve parecer suficiente, amplo e agradável, e deve ter existido algum esforço ou investimento para a redução do ruído;
A escola deve promover atividades que permitam a aprendizagem sobre alimentos e hábitos saudáveis como: degustação de alimentos e aprendizagem de novos sabores, hortas escolares/pedagógicas, participação em visitas de estudo a locais agrícolas e de produção de alimentos locais;
Devem existir atividades que promovem a capacitação dos estudantes para a confeção saudável de alimentos (competências básicas), de preferência, utilizando as instalações da escola;
Devem existir algumas recomendações para os encarregados de educação no que diz respeito à entrada (ou não) de determinados alimentos, provenientes do exterior, na escola;
A água potável deve estar disponível em todo o recinto escolar (bebedouros bem distribuídos pela escola e em bom estado, jarros de água nos bufetes, jarros de água abundantemente distribuídos ao longo das mesas do refeitório);
A escola deve conhecer e cumprir a legislação que proíbe o marketing de alimentos e bebidas dentro do recinto escolar (cartazes, livros, brinquedos associados a marcas...);
Na eventualidade de dinamizar festas de aniversário e outros eventos escolares, a escola deve sugerir a presença de alimentos e bebidas saudáveis ou criar regras sobre este assunto nos regulamentos internos da escola que consigam compatibilizar saúde e prazer à mesa;
A escola deve ter um compromisso na promoção da alimentação saudável envolvendo os parceiros locais, nomeadamente e sempre que possível, promovendo a produção local de alimentos e os hábitos gastronómicos locais nas suas ementas;
Idealmente, a escola deve criar um espaço para a promoção de hábitos alimentares saudáveis com professores, diretores, assistentes operacionais e restantes funcionários que colaboram com a escola. Exemplos simples, como a presença de uma cesta de fruta na sala de professores, água como bebida, sobretudo na sala de aula, participação nos momentos das refeições com opções saudáveis;
No caso de possuir bufete (2.º e 3.º ciclos e Secundário), a escola deve cumprir com as orientações emanadas pela Direção-Geral da Educação.
Esta sugestões não são apenas responsabilidade da escola e dos seus dirigentes, mas também e muito dos encarregados de educação. Atualmente, são muitos os pais que deixam os seus filhos longas horas na escola, esperando que esta cumpra a missão de os educar (do ponto de vista alimentar também). E depois, em casa, nos momentos de recreio, à mesa ou quando compram alimentos, possuem um registo alimentar totalmente oposto ao que a escola preconiza. Que começa nas lancheiras que são trazidas para a escola, onde os doces e refrigerantes abundam, até ao total desinteresse pelo que a escola oferece ou disponibiliza em termos alimentares ao longo da semana. Ainda temos muito trabalho de casa para fazer, mas o ano letivo só agora se inicia...
*DIRETOR DO PROGRAMA NACIONAL PARA A PROMOÇÃO DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL/DGS