Nunca percebi porque é que uns usam e outros não. Não seria normal que, tendo sido o cravo vermelho um símbolo tão natural, tão casual e tão fortuito, todos os políticos o usassem ao peito nas cerimónias alusivas ao 25 de Abril? Ou estou a ver mal e o cravo é só de alguns?
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Pareceu-me que foi para refutar essa ideia que Paula Teixeira da Cruz o usou neste 25 de Abril na Assembleia. O discurso da representante do grupo parlamentar do PSD foi uma espécie de desabafo, que soou violento e isolado mas que ecoou justo e pertinente.
Uma análise fria à comunicação da atual solução governativa, com especial relevância para o discurso do Bloco de Esquerda, demonstra uma apropriação abusiva dos "valores de Abril", sempre declinada num ataque ideológico cego e insustentado aos partidos que compunham o Governo anterior.
Convenhamos que uma coisa é não estar de acordo com um método que privilegia o retorno de algum rendimento às famílias e, espera-se, à economia. Uma coisa é governar num tempo em que o simples levantar a mão para pedir a palavra nos círculos europeus punha os mercados a bailar.
Outra coisa, completamente diferente, é passar-se, por isso, a ser considerado pouco democrata ou mesmo traidor à pátria. E outra coisa ainda é não reconhecer que a humildade que o presidente da República aconselhou para uma oposição construtiva serve para os dois lados. E o lado da Esquerda radical tem de saber assumir que pode agora ensaiar um novo percurso porque outros construíram a passagem estreita pela qual tentamos todos esgueirar-nos.
Foi pena, como já referi, que o discurso de Paula Teixeira da Cruz tenha soado violento e emotivo numa sessão em que o novo presidente foi o protagonista autorizado. Mas deve ser levado em conta por todos os protagonistas políticos e pela Comunicação Social cumpridora das regras deontológicas a que se referiu o presidente da Assembleia da República.
Confesso, no entanto, que teria ajudado se CDS e PSD tivessem, como todos os outros, aplaudido a presença dos capitães de Abril no hemiciclo.
De cravo ao peito, este grupo de homens tem o direito, que não assiste a qualquer partido, de acharem este ou aquele Governo mais próximo ou mais distante das promessas de Abril. A cada retorno e a cada ausência devemos-lhes todos a nossa gratidão e o nosso aplauso e, por nós, todos os deputados sem exceção.
Foi pena que assim não tenha sido. E não usar o cravo ao peito, não iliba ninguém deste mandato.