Não posso deixar de manifestar a minha admiração pelo notável sentido mediático de oportunidade de Rui Rio. Um senhor! Mal reparou que já estava na fase de rescaldo o fogo posto pelo irrevogável Portas, achou chegada a hora para ele dar uma entrevista que mantivesse em lume brando a silly season da pequena intriga política, retirando o protagonismo aos incêndios florestais, que nesta época, à míngua de matérias mais sumarentas, ocupam as capas dos jornais e as aberturas dos telejornais.
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O tempo de entrada foi mais do que perfeito. Até parecia o Otamendi no jogo de domingo contra o Nápoles. Pena que tenha sido obrigado a dividir as atenções com os pândegos dos juízes da Relação do Porto que redigiram aquele fabuloso acórdão onde reconhecem que um copito a mais só nos ajuda a esquecer as agruras desta vida.
Apesar de estar convencido de que o Rui é um adepto da alegria no trabalho, estou certo que, como pessoa ultrasséria, sóbria e contida que é, não se meteu nos copos antes de dar a entrevista à RTP, fazendo por isso ouvidos moucos ao conselho dos desembargadores, que no fantástico acórdão escreveram que o público pode congratular-se ao ver alguém que encontrou a alegria no fundo de uma garrafa.
Até porque, na entrevista, o Rui não disse nada que nós já não soubéssemos. A única novidade foi afirmar em voz alta que tem tanto pó ao seu antigo amigo Menezes, que está disposto a continuar a fazer tudo ao seu alcance para evitar que ele se instale no gabinete que ocupou na última dúzia de anos.
Ao contrário do que algumas pessoas insinuam à boca pequena, não me parece que por detrás desta obstinação de Rui (Rio) esteja o medo de que a memória futura do seu consulado na Câmara do Porto possa vir a ser manchada por revelações do sucessor - que, a acreditar, nas sondagens será Menezes, pois se em dois meses o Rui (Moreira) apenas progrediu 0,2%, é pouco crível que no tempo que falta para as eleições (menos de dois meses) seja capaz de recuperar 8%.
Não, o Rui (Rio) é um homem de ideias fixas e convicções fortes que apenas elegeu como seu combate político prioritário tentar impedir o candidato do seu partido de ser eleito no Porto porque, no íntimo, acredita mesmo que ele fez a Gaia pior do que Sócrates fez ao país e como vê que a esmagadora maioria dos eleitores, nas duas margens do Douro, não partilha esta sua avaliação, ele não olha a meios para a convencer de que está enganada.
PS. Afastado há dez anos da Casa da Música, na sequência de uma entrevista ao JN que não agradou ao presidente da Câmara, Pedro Burmester prometeu que só voltaria a tocar em público no Porto quando Rui Rio já não mandasse na cidade. Já só faltam 124 dias para que Burmester volte a tocar no nosso Porto, encerrando a 8 de dezembro o ciclo de piano da Casa da Música, perante uma Sala Suggia cheia e vibrante. Vai ser um momento memorável!