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A nossa vida tem um ciclo anual marcado por eventos recorrentes que, em dadas épocas do ano, suscitam variadas reflexões. Por exemplo, a entrega da declaração do IRS faz-nos pensar nos impostos que pagamos. O Natal suscita uma reflexão sobre as relações familiares e de amizade. Na Páscoa a Igreja convida-nos a refletir sobre as nossas falhas e a corrigirmo-nos. No Ano Novo somos levados a fazer um balanço do ano que está a acabar e a definir objetivos para o ano que se inicia, etc. Vem isto a propósito do debate da Nação ocorrido esta semana. Todos os anos, por esta altura, somos levados a refletir sobre a situação do país. Mas este ano esta reflexão tem uma importância especial. Estamos próximos de um novo ato eleitoral.
Passados os quatro anos da legislatura, a pergunta que se impõe é: estamos hoje melhor ou pior do que em 2011? Sem dúvida que há alguns indicadores que melhoraram, mas não confundamos a floresta com algumas árvores. Para responder àquela questão só há um critério, que é o de saber se o bem-estar dos portugueses e as perspetivas da sua evolução melhoraram. A resposta é negativa. As condições de vida de muitas centenas de milhares de portugueses agravaram-se devido a cortes nos rendimentos e ao agravamento dos impostos. Os desempregados, em maior número que em 2011, são os que estarão numa situação de maior fragilidade. O desemprego jovem também se agravou e é maior a desmotivação dos jovens para apostarem na sua educação e formação. Muitos emigraram. O produto por habitante é menor e o rendimento disponível das famílias portuguesas diminuiu. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, agravou-se o risco de pobreza, que afeta 1 em cada 5 portugueses, e é maior a desigualdade na distribuição do rendimento.
O país empobreceu. Empobreceu porque a sua produção recuou aos níveis de há 12 anos. Empobreceu porque temos menos população disponível para trabalhar. Empobreceu porque a queda do investimento reduziu o stock de meios de produção do país. A situação financeira do país está mais frágil pois a dívida pública aumentou e o défice continua elevado não permitindo ainda uma redução desta dívida a um ritmo suficiente para assegurar a sua sustentabilidade. As perspetivas permanecem sombrias pois o quadro orçamental vai continuar a ser restritivo e a economia revela dificuldades em crescer a um ritmo mais acelerado.
Por estas razões o país está fragilizado. Há razões para recearmos o que se está a passar com a Grécia.
*ECONOMISTA