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No arranque de mais um ano escolar, insistem as vozes críticas da governação num balanço quase trágico destes quatro anos da ação do Ministério da Educação, evidenciando o "abate" de 40 mil lugares de professores nas escolas públicas portuguesas.
Seria caso para perguntar: terá havido alguma epidemia que justifique a dispensa de tantos professores? É claro que não houve. E ainda que se invoque o decréscimo de crianças, nunca será em número tal que justifique um "abate" desta ordem. De resto, aumentou também a escolaridade obrigatória para 12 anos, o que implicou mais alunos no sistema. O que houve, e há, é uma preocupação obsessiva do Governo em: 1 - fechar escolas a torto e a direito nas aldeias e vilas, esgotando ou acinzentando a vida nos meios rurais, e em consequência condensar turmas enormíssimas em outras escolas; 2 - desviar alunos do ensino público para colégios privados (onde, só este ano, investiu 53 milhões de euros para aí abrir mais 656 turmas); 3 - reduzir ao mínimo a educação especial (há meninos com apenas meia hora de apoio por semana, diz o JN); 4 - impedir ou desestimular os professores de frequentarem formação ou cursos para ascensão académica (e se os frequentam de "motu proprio", de pouco ou nada lhes vale na carreira...); 5 - por fim, e não menos estrangulador, concentrar em cada docente um rosário infindável de funções e tarefas, que o obrigam a trabalhar dia e noite (lecionar, assegurar planos de aula, de recuperação de alunos e de registos regulares de evolução, elaborar materiais pedagógicos, projetos de turma e de acompanhamento pedagógico (PAP), testes de diagnóstico, informação para encarregados de educação, relatórios de todas as atividades (projetos, clubes, aulas de apoio), relatórios de autoavaliação, reuniões e elaboração das respetivas atas com encarregados de educação, conselhos de turma, de diretores de turma, de departamento, de projetos e clubes, conselho pedagógico...).
Um governo que aí venha e se disponha a seguir este rumo (abater escolas e professores, mas também embarcações de pesca, postos médicos, maternidades, tribunais, repartições de finanças, postos da GNR e de correios... e assim arrumar de vez com o défice em Portugal), deverá pensar em criar um "ministério do abate". E Nuno Crato daria um bom titular.
*ESCRITOR