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O Governo PS de António Costa, que fez recentemente dois meses, está bem e recomenda-se. Sobrevive emparedado por dois lados: de um lado, tem as exigências de Bruxelas; do outro lado, tem a maioria parlamentar de Esquerda (BE e PCP).
O Governo tem estes dois blocos de forças contra si. António Costa faz equilíbrios entre a pressão da UE e o apoio parlamentar (BE e PCP).
A UE pede a baixa do défice com o corte de gastos públicos; ao invés, o BE e o PCP pedem a melhoria do nível de vida dos trabalhadores: subida de salários e pensões.
Este cenário não se sabe se será compatível e verosímil. Mas Costa já provou que é um mestre num cenário de equilibrismo. Se houver um rompimento das promessas eleitorais, o PCP tenderá a criar problemas. O BE e o PCP não fizeram um acordo para haver mais cortes, mas para estancar o empobrecimento das famílias e do país. Todavia, este caminho não agrada à troika e à UE.
A grande incógnita é saber-se se a política de maior despesa social é compatível com o rigor imposto pela troika. Acho que há um excessivo optimismo com as perspectivas de crescimento. O Estado não tem que ser o bom aluno das más políticas e deve ter a coragem de defender as pessoas. E isso tem muita força.
Existem receios quanto ao cumprimento das metas estabelecidas, todavia a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa foi a melhor coisa que poderia ter acontecido a António Costa.
Este resultado, nas eleições presidenciais, mostra outra coisa muito importante. O candidato do PCP teve um mau resultado; assim, o PCP não terá a tentação de provocar eleições antecipadas. O BE teve um excelente resultado, mas é mais flexível.
Deste modo, haverá nos próximos tempos muita negociação, mas também muita cumplicidade para cumprir o acordado.
Marcelo não derrubará este Governo. Costa governará e o seu maior problema é a UE. O PCP, para já, vai manter a calma.
Haverá eleições antecipadas quando o PS achar que as pode vencer. Isso depende da conjuntura económica. Para já, não haverá eleições antecipadas. Em 2017, veremos...
É bom para os portugueses ter somente eleições autárquicas em 2017; europeias em 2018; legislativas em 2019; presidenciais em 2021.
Menos ruído de fundo, mas cada vez menos gente a ligar à política.
* FUNDADOR DO CLUBE DOS PENSADORES
O autor escreve segundo a antiga ortografia