Ou é isto ou nada. O que, nas palavras de António Saraiva, presidente da CIP (Confederação Empresarial de Portugal), é o mesmo que dizer que "mais vale ter trabalho precário do que (estar no) desemprego". Descontada a carga dramática e o tom fatalista da sentença (também é melhor comer carne crua do que morrer à fome, como também é melhor viver num palheiro do que ao relento, e por aí fora), esta é a realidade com que se defronta, hoje, grande parte dos jovens que constituem a chamada Geração Y (nascida entre 1980 e meados dos anos 90). Basta dizer que um em cada três desempregados em Portugal tem menos de 25 anos. E que, no último trimestre de 2015, havia 828 mil pessoas com contratos a prazo, grande parte das quais jovens. É difícil de engolir, mas António Saraiva tem razão: a dignidade com que todos merecemos ser tratados no mundo do trabalho não consegue sobrepor-se ao valor de ter um emprego, por mais precário que seja.
O que a frieza dos números esconde, em Portugal e no Mundo, é aquilo a que uma investigação do jornal britânico "The Guardian" intitula de "tempestade perfeita": os jovens da tal Geração Y, em cujos ombros se alicerça o futuro das sociedades modernas, beneficiam cada vez menos da riqueza gerada nos seus países. Dívida, desemprego, globalização, especulação imobiliária e erosão demográfica são os ingredientes explosivos que fazem com que esta seja, muito provavelmente, a primeira vez no pós-industrialização - e descontando os períodos de guerra e os desastres naturais - que os rendimentos dos jovens são tão baixos quando comparados com o resto da sociedade - cerca de 20% a menos do que os demais compatriotas.
Ainda que os dados tratados não contemplem Portugal (mas olhem para as realidades de Espanha, Itália e França, por exemplo), o que nos é revelado chega a ser assustador: nos Estados Unidos da América, os trabalhadores com menos de 30 anos são, hoje, mais pobres do que os reformados. No Reino Unido, o rendimento dos idosos aumentou três vezes mais do que o dos mais novos. E em Itália os menores de 35 anos são mais pobres do que os pensionistas com menos de 80 anos.
Os despojos desta "tempestade perfeita" estão à vista: filhos em casa dos pais até aos 30 e tal anos, casamento nem pensar, arrendar casa em vez de comprar, filhos logo se vê. Os jovens que ganham cada vez pior e são cada vez mais precários vão, todavia, trabalhar mais anos, descontando solidariamente para uma geração que, à luz destas premissas, parece estar sossegadamente sentada em cima de um monte de ouro.
A Geração Y, a mais informada de sempre, não sabe que caminho seguir. Na verdade, ninguém sabe.
