Entre a euforia das autoridades belgas, horas após a detenção de Salah Abdeslam, um dos mentores dos atentados de Paris, e as lágrimas sofridas de Frederica Mogherini, chefe da diplomacia europeia, distam apenas quatro dias. Quatro. Tempo suficiente para a Europa ser sacudida por mais um atentado sangrento. O Velho Continente mantém-se, de alguma forma, refém desta bipolaridade emocional perante o terrorismo. Apertam-se as fronteiras, endurece-se o discurso, trocam-se informações secretas entre países, agilizam-se leis punitivas, mas fica tudo na mesma. Continuamos a recolher os mortos. Como se isso fosse uma fatalidade inscrita no nosso destino coletivo.
Não há uma fórmula mágica para acabar com o terrorismo. Nem na Europa, nem no resto do globo. Estamos em guerra, mas nesta guerra não nos basta arregimentar as tropas, movê-las no território e dizimar o inimigo. Porque não podemos diabolizá-lo como uma entidade externa, longínqua. Porque ele já se aculturou, já está enraizado. Ele é um de nós.
Esta guerra requer tempo, trabalho aturado de investigação, paciência, estratégia. E os resultados aparecem a uma velocidade inversa àquela a que as opiniões públicas desejam ver cabeças numa bandeja. De resto, a ação pós-11 de setembro no Iraque provou que o equilíbrio medieval do olho por olho, dente por dente não é eficaz. Agir por impulso, agora, só contribui para alimentar a fome dos populistas (ainda ontem, Donald Trump aproveitou a morte de 34 inocentes na Bélgica para defender mais métodos de tortura nos Estados Unidos); só serve para expor sobremaneira as fragilidades de uma Europa que anda às apalpadelas perante este fenómeno desconcertante.
Choremos os mortos, por agora. Mas não nos deixemos adormecer nesse torpor, não percamos o foco: os jiadistas não são entidades esotéricas. A sua proveniência está identificada, sabemos que é na Síria e no Iraque que são treinados, sabemos quem são os que decidem sair da Europa para mergulharem na radicalização, sabemos, até, quantos desses regressam. Há, por isso, que ser mais consequente na prevenção. Como é possível que o mentor dos atentados de Paris tenha conseguido viver, tranquilamente, durante quatro meses, no bairro que concentra o maior número de radicais na Europa? Como é que as autoridades belgas permitiram que se rearmasse, que preparasse outros atentados, que fosse ajudado pelos vizinhos?
Os próximos tempos serão de músculo verbal por parte dos políticos ocidentais. Provavelmente, serão desmanteladas mais umas células terroristas. Mas o ódio de quem quer matar inocentes em nome de uma pretensa causa religiosa continuará a ter a força duradoura do cimento. Por isso é que, de uma vez por todas, os líderes ocidentais têm de chamar para esta guerra os líderes muçulmanos. Porque a causa é comum. Enquanto os terroristas não ficarem sozinhos num canto, essa ponte que separa o Ocidente do Oriente continuará a ser a sua rampa de lançamento. As balas tiram vidas. Mas são as palavras que matam as convicções.
*EDITOR-EXECUTIVO-ADJUNTO
