Os considerandos permitiram ao PCP fechar os olhos à conclusão e votar contra a recusa do Programa de Estabilidade, proposta pelo CDS e aplaudida pelo PSD. O Bloco de Esquerda passou de forma mais discreta pelo debate e conseguiu descomprometer-se sem ter de o assumir. Mais manobra, menos manobra, o resultado é que conta e António Costa soma mais uma vitória na condução controlada da "geringonça". Já nem o nome incomoda: desde que funcione.
Com habilidade política, o primeiro-ministro consegue gerir os acordos à Esquerda, introduz medidas que agradam aos parceiros - fazendo esquecer outras que poderiam bem ser de um Governo PSD-CDS -, recebe apoio quase diário do presidente da República e vai mantendo, sem manter, um braço de ferro com Bruxelas.
Há vários meses que Mário Draghi, Eurogrupo e mercados falam incessantemente na necessidade de um Plano B, o Parlamento pergunta por ele, mas do Governo a garantia é sempre a mesma. O plano é só um: cumprir o Plano A. Num desafio a Bruxelas que, vistas as coisas, é mera ilusão. Sem alarido, como se foi sabendo nos últimos dias, há medidas concretas prontas a serem aplicadas. Impostos indiretos que poderão ser agravados. Uma austeridade suficientemente subtil para que PCP e BE não deem por ela.
Mas nem só a Esquerda segue de direção alinhada. Depois de um arranque difícil, a "caranguejola" dá sinais de estar a funcionar. Marcelo Rebelo de Sousa inspirou. O PSD respirou. E seguiu-se uma extensa lista de propostas de alteração ao Plano Nacional de Reformas, votadas pacientemente no Parlamento. Feitas as contas, 140 foram aceites.
Arrumando com a imagem de quem o dizia amuado por ter perdido as eleições depois de as ganhar, Pedro Passos Coelho assume o papel de oposição construtiva. Alinhado com o CDS e sem o perder de vista, para não se deixar ultrapassar pela Direita. Assunção Cristas precisa de terreno. E tem demonstrado capacidade e iniciativa para liderar a Oposição, forçando a discussão do Programa de Estabilidade e a clarificação do sentido de voto de cada partido.
O equilíbrio dura enquanto as contas públicas quiserem. Os dados da execução orçamental de março dão alguns sinais de alerta. E falta saber até quando conseguirá o Governo manter as contas suficientemente alinhadas para satisfazer a Europa. Por agora, as máquinas vão disputando terreno. Sem grandes guinadas, prontas a acelerar quando chegar o tempo de discutir a corrida decisiva.
