Trânsito às oito da manhã. Marcelo Rebelo de Sousa não é um aselha na estrada. Há uns condutores fora de mão. Irritados. Outros pacientes. A rádio debita recados. O presidente da República leva os quatro piscas ligados. A todos acena. A todos sorri. E ninguém lhe passa à frente. Nem pela esquerda. Nem pela direita. A estrada é dele.
A Esquerda não gosta do presidente à Direita. A Direita não gosta do presidente à Esquerda. E o presidente gosta de todos. E do povo. E dele. "Quem será a oposição do presidente que ama todos os portugueses?" Pergunta Marcelo. Há respostas? De António Costa, Pedro Passos Coelho, Assunção Cristas, Catarina Martins, Jerónimo de Sousa ou Cavaco Silva?
O presidente dá. A resposta. É um condutor exímio. "Não há oposição. Tem de ser alguém muito distraído. Com quotas de popularidade de 80 e tal por cento, tem de ser alguém muito distraído".
O que António Costa percebe é que Marcelo Rebelo de Sousa é o maior seguro de vida do Governo. Quem mais contribui para a perceção de que o país está melhor e os portugueses também. O que Pedro Passos Coelho não percebe é que o presidente da República não é um condutor sem rumo. Ele tem mapa e GPS para o que quer do país. E não há boleia para o líder do PSD. Este. O que toda a Esquerda e toda a Direita percebem é que o inquilino de Belém não prevê desvios na rota, que traçou ainda era ele apenas professor e comentador, com a ânsia de acompanhar em permanência as audiências televisivas das conversas de domingo. Não gostam dele. Serão os tais 20% de popularidade que lhe faltam.
Diz Marcelo Rebelo de Sousa, em Andorra, entre uma compra de sapatos e uma caminhada. "Agora viramos à direita, coisa que eu em Portugal já não faço há algum tempo". Melhor: "De vez em quando faço, mas a Direita não nota. Eu quando viro à direita em Portugal, a Direita está distraída a bater na Esquerda, não nota. Em vez de aproveitar, não nota".
Foi uma figura de estilo. Como o foram as expressões de que se serviu, ainda em Andorra, para falar de Portugal: "Aquilo está a crescer, a crescer, a crescer. Turistas, turistas, turistas".
Na verdade, o presidente da República, que já sublinhou por diversas vezes que "é um dever constitucional e institucional" criar condições para que um Governo governe, qualquer que seja o Governo em funções, sabe que é mais sinaleiro do que condutor. Mas alguém tem que fazer fluir o trânsito. Agora é mais pela esquerda. Ele quer que seja pela convergência das vias. E tem tempo.
Quatro piscas ligados.
* DIRETOR-EXECUTIVO
