Há uma anedota que assenta bem na solução encontrada pelo Governo para o Novo Banco. Concentrado no seu habitual golfe das sextas-feiras à tarde, um empresário inglês é subitamente interrompido por um empregado esbaforido.
- Sir, sir, a fábrica está a arder!
- Oh, que chatice vou ter na segunda-feira.
O negócio do Novo Banco já era uma fábrica a arder que o Governo acredita apagar com a operação de venda aos americanos da Lone Star.
Ainda há muito fumo, faltam perceber as letras do contrato e qual é o plano de negócios. Quantos balcões fecham? Quantos despedimentos? Qual a estratégia para um banco que detém 16% do mercado e com uma influência que não é de menosprezar nas pequenas e médias empresas? Mas vamos seguir o fio de raciocínio. Era preciso dar uma boa notícia, que aparentasse não poder vir a ser uma má notícia.
Os argumentos são do primeiro-ministro. Afastar o espectro da liquidação, cujas consequências seriam uma dramática derrota. Evitar o impacto direto nas contas públicas e assegurar que os contribuintes não são chamados a pagar mais esta fatura. Salvaguardar a estabilidade do sistema financeiro, não sendo exigidas aos bancos contribuições extraordinárias para o Fundo de Resolução. Mostrar que nacionalizar, como pretendiam os partidos que suportam o Governo, seria deixar o fogo sem controlo.
A solução foi dar. O Estado não injeta dinheiro, não encaixa nada e fica com 25% dos problemas. Sem participação na gestão e apenas com direito de veto sobre a venda de ativos tóxicos. Na melhor das hipóteses, corre tudo bem e daqui por quatro ou cinco anos ganha algo do que agora deu. Na pior, o Fundo de Resolução é obrigado a providenciar financiamento. Este é dos bancos, claro, mas como não tem capital suficiente pode implicar um empréstimo do Estado, a somar aos 3,9 mil milhões que o Estado já lá tem. Pago pela Banca - outra vez, claro - a 40 anos e com taxas de juro apetecíveis.
Tudo isto é mau. Mas é o melhor do pior. Os problemas privados têm-se tornado públicos permanentemente. E a Banca, com as honrosas exceções do BCP e do BPI, que pediram ajuda, mas cumpriram no que acabou por ser um negócio proveitoso para o Estado, tem sido um problema persistente dos últimos anos.
"Vamos todos pagar isto", disse o ex-ministro das Finanças Teixeira dos Santos ao Dinheiro Vivo. Uma chatice. Mas só na segunda-feira.
* DIRETOR-EXECUTIVO
