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É inegável que o contexto determina muito do que somos. Não faltam estudos indicando que é mais provável filhos de licenciados terem ambição de atingir um nível superior de ensino. Que os pais que terminaram apenas o primeiro ou o segundo ciclo acompanham menos os filhos nos trabalhos de casa. Que as baixas habilitações tendem a perpetuar-se, como uma marca à nascença difícil de apagar.
Os resultados do PISA, análise comparativa que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) promove a cada três anos, são por isso particularmente relevantes. Portugal não só ultrapassou a média dos 70 países em causa, como conseguiu fazê-lo sem agravar as desigualdades sociais. Pelo contrário.
Em tempo de crise, melhorou o desempenho dos alunos oriundos de contextos desfavorecidos. São 38,1% os que conseguem prestações elevadas a Matemática, Ciências e Leitura. Chamam-lhes "alunos resilientes", por demonstrarem essa capacidade de superar os limites que lhes são impostos na origem. E Portugal atinge o 13.º lugar em percentagem de alunos resilientes, muito acima da média e ultrapassando países como a França ou a Suécia.
É difícil medir tudo o que contribui para uma boa nota. Há as capacidades naturais, o incentivo e apoio prestados em casa, o esforço e trabalho individual. Mas há também a influência de vivências de impacto mais subjetivo e impossível de avaliar. As viagens, as conversas que se têm em família, os livros e músicas que os pais ouvem. Sem nada disto, os alunos mais desfavorecidos têm tantas vezes de trabalhar o dobro ou o triplo para ganhar o mundo que à partida não têm.
Olhar para a elevada percentagem de "alunos resilientes" que temos é um desafio a confiar mais no poder da educação. Politicamente, deve levar-nos a penalizar as constantes mudanças e a instabilidade em que os sucessivos governos teimam em ser pródigos. Socialmente, lembra-nos o risco de desvalorizar o papel fulcral da educação.
Num momento de grande desemprego entre jovens licenciados, é frequente ouvir-se relativizar a importância de uma habilitação superior. É verdade que um canudo não é tudo, e pode mesmo valer zero. Mas aprender e abrir janelas sobre o Mundo continua a ser a melhor arma para superar limitações. Nem que seja para decidir fazer qualquer coisa diferente daquela para a qual se estudou.
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