Quem espera atribui sempre uma dimensão diferente ao tempo. Os três meses já decorridos sobre a tragédia de Pedrógão Grande serão pouco para investigadores obrigados a ouvir centenas de pessoas e a reconstituir sem margem de erro o que aconteceu no final da tarde de 17 de junho. São demasiado, uma eternidade, para famílias suspensas de uma resposta. É do inquérito em curso no Ministério Público, mais do que de qualquer relatório administrativo, que depende o apuramento de falhas, eventuais indemnizações, e acima de tudo uma resposta sobre as causas que deixe fechar portas e fazer um luto particularmente doloroso.
Habituámo-nos a ouvir falar de demoras em casos mediáticos. E de inúmeras justificações: circuitos complexos e difíceis de comprovar quando se trata de criminalidade financeira, processos que vão desembocando em novas suspeitas e linhas de investigação, ou simplesmente a falta de meios que impede uma intervenção mais rápida.
É quase sempre desses, dos mediáticos, que se fala, podendo haver quem se convença que é apenas nos processos difíceis que a justiça encrava. A verdade retratada nas estatísticas é outra. A morosidade é uma doença que atravessa todas as áreas, mas mais do que qualquer outra a cível. Segundo os últimos dados disponíveis, os processos mais rápidos são os laborais: demoram em média seis meses. Segue-se a justiça penal, com uma duração média de 10 meses. Finalmente, um processo cível demora em média 32 meses - ou pouco mais de metade se daqui retirarmos ações executivas, que são particularmente morosas.
Há anos que ouvimos os partidos falar de um pacto para a justiça, reconhecendo que se trata de um problema sério. Sem resultado até hoje. Não há uma reforma, há mexidas pontuais ao sabor da vontade de cada Governo. E alterações profissionais, que esbarram na capacidade reivindicativa de cada classe. Mas muito pouca vontade (até dos atores judiciais, muitos deles com uma responsabilidade acrescida por desempenharem uma função soberana) de encontrar soluções que tornem os tribunais mais eficazes e próximos das pessoas.
A justiça tem sido representada, ao longo dos tempos, como uma mulher de olhos vendados. A venda não estaria nas figuras iniciais das deusas gregas Themis e Dike, mas terá sido mais tarde acrescentada à romana Iustitia. Simboliza uma justiça imparcial. Morosa como é, a justiça tornou-se cega, sim, mas porque não consegue ver e respeitar o tempo das pessoas que deveria servir e proteger.
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