Poupar não é para quem quer. É para quem pode. E quase ninguém pode. Somos hoje um povo que não consome, nem poupa. Pagamos dívidas e vivemos mal. E o futuro? Não parece promissor.
Os portugueses estão entre os que menos poupam e apenas as famílias com maiores rendimentos o consegue fazer, diz o Boletim Económico de maio, divulgado esta semana pelo Banco de Portugal.
"A taxa de poupança aumenta com a riqueza líquida ou com níveis de escolaridade, variáveis que estão muito relacionadas com o rendimento permanente. Esta evidência sugere que a poupança pode ser encarada como um bem de luxo".
Estes dados surgem numa altura em que diariamente se fala de poupança, sobretudo para acautelar as pensões de reforma (aquelas que tínhamos como direito adquirido pelo esforço do trabalho de uma vida), mas que no que toca ao sistema público já todos sabemos não há garantias de haver dinheiro para as pagar. Poupar é uma missão impossível.
Na verdade, poupar é coisa de ricos. Em Portugal, 80% da poupança vem de apenas 20% das famílias. E quem poupa? Quem tem rendimentos mais elevados. As famílias de menores rendimentos fazem poupança negativa. Isto é: gastam poupanças antigas ou endividam-se.
Quando era miúdo os mais velhos diziam-me: estuda Zezinho, trabalha menino, para um dia teres uma bela reforma. E estudei. E agora trabalho a esmagadora maioria do meu tempo. Mas o Mundo mudou e quando faço simulações de como vai ser a minha reforma e fico à beira de um ataque de nervos.
Mas a dura realidade é que não poupamos, porque não conseguimos. Porque nos ensinaram a estudar e a trabalhar, mas não nos ensinaram a fórmula mágica da multiplicação dos pães. Porque se em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão, também quem muito trabalha não tem tempo para ganhar dinheiro.
E onde ficamos? Em terra de ninguém. Entre um passado recente onde éramos bombardeados com apelos ao consumo e nos endividámos; este presente - da crise que nunca mais acaba - em que apenas conseguimos sobreviver; e um futuro incerto, com pouca esperança para quem vive dos rendimentos do seu trabalho.
Na verdade, a senhora reforma é uma galinha que já nem grão a grão consegue encher o papo. Peço desculpa por tantos provérbios populares, mas como se sabe, é infinita a sua sabedoria. Evocam também os ensinamentos da minha mãe Piedade que esta semana nos deixou. Sei que continua a olhar por nós, que tanto vamos precisar.
