Imaginava que o livro de José António Saraiva (JAS) sobre a vida privada dos políticos pudesse ser apresentado por Teresa Guilherme. Mas não. Terá a apresentação de Pedro Passos Coelho. A "Casa dos segredos" mudou de mão e, perante isto e num país decente, Passos Coelho teria assinado em mão o seu suicídio político.
Corpo do artigo
Na política, porém, ainda vivemos incólumes no desdizer e na apropriação. Parte da classe política é conivente, fazendo de conta que não vê assassinatos de carácter em cada esquina com medo das represálias e da má Imprensa. Já outros, sem nada a temer, receiam que a injustiça tablóide lhes bata à porta pela mão dos que não têm nome e calam-se. Já boa parte dos comentadores económicos vive a sua vida a soldo, à procura do saldo da conta e do mau rating que lhe possa manter emprego, caixas de jornal e posição. Para estes, se não é sobrevivência é criação: só comentam economia porque percepcionam um só modelo económico, um só modelo do Mundo, frequentemente o Mundo instalado na sala de direcção ao lado. Outros, aqueles que pensam viver para sempre por melhor lamberem os calcanhares ou demais geografias orgânicas, olham embevecidos para a perfídia do chefe. Alguns desses chefes, por se julgarem acima de todos e após últimos anos de impunidade e andor, julgam poder escrever livros onde descem ao nojo e à mais cruel forma de manchar a vida, revelando hipotéticas conversas privadas com aspas textuais, citando pessoas que já nem sequer estão vivas para se defender ou encharcar um pano falecido nas suas fuças ao sol. Não é lama, é lodo.
Percebo quem diz não pretender gastar um minuto a promover pela crítica um tratado de canalhice. Mas quem não se atravessar na fileira da indignação está condenado na zona de fronteira. Ainda que se compreenda a frustração de JAS por nunca ter sido político e se imaginem telhados de vidro em casa, tudo isto é desprezível vindo de um jornalista com responsabilidades. Os assassinatos de carácter cometidos por Paulo Portas nos tempos do "O Independente" são travessuras adolescentes quando comparadas com a abjecção que aí vem. Nem ele, nem Miguel Portas mereciam isto. Nem ninguém.
Apresentar um livro sem o ler requer uma enorme confiança ou dívida a quem escreve. Nunca tive dúvidas, tendo em conta os protagonistas. Não alinho na teoria de que Passos Coelho só lá está para ser poupado no livro por JAS. Nunca estaria. Mas quem pediu respeito pela sua família no recato da intimidade de um momento difícil não pode esperar que voltemos a olhá-lo da mesma forma depois de apresentar um tratado de canalhice. Pode ter um quarto na casa do Saraiva mas, aos olhos dos outros, já não é segredo que penhorou o carácter.
MÚSICO E ADVOGADO
O autor escreve segundo a antiga ortografia