Os dados estão aí preto no branco para que até os mais céticos não possam duvidar. O ano de 2016 é o mais quente de sempre. Os números foram ontem divulgados pela Agência Meteorológica Mundial, no âmbito da Cimeira de Marraquexe, onde peritos e líderes mundiais estão reunidos para que o acordo de Paris possa finalmente ser implementado.
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Mas será que vai? Trump, apesar da realidade dos números, poderá argumentar que as alterações climáticas são uma invenção: apenas o desacelerar da industrialização nos Estados Unidos para a China continuar a crescer. A esperança durou pouco. Ainda antes de completar um ano da histórica assinatura do acordo de Paris, pelos Estados Unidos e pela China, em que os países se comprometem a estabelecer medidas para que a temperatura suba um limite máximo de dois graus Celsius, eis que Donald Trump se prepara para cumprir a promessa eleitoral. O novo presidente dos Estados Unidos fez saber que não vai esperar quatro anos para se desvincularem do acordo.
Que importância têm as evidências? As primeiras vítimas do aquecimento global, é verdade, são os pobres dos mais pobres. Os outros só as sentirão, efetivamente, num prazo de várias gerações. A discussão deve ser essa mesma. Que mundo deixaremos às gerações futuras?
Os sinais são, deveras, assustadores. E não apenas os que nos chegam do outro lado do Atlântico. Muitos sinais idênticos são dados no velho Continente. Ainda no final da passada semana, escassos dias após a celebração de mais um aniversário da queda do muro de Berlim, outros muros se erguem na velha, e dita tolerante, Europa. Em Munique vários residentes consideram insuportável o barulho proveniente de um centro de refugiados. Logo, um muro de quatro metros de altura cresceu pedra a pedra. Trump, por seu lado, vai expulsar milhões de imigrantes ilegais. Na Europa não faltará quem deseje o mesmo. E não faltará muito para que, tal como aconteceu no país de todas as oportunidades, esse desejo até agora calado seja legitimado pela escolha popular.
A geopolítica está a mudar. Os últimos dias deram um impulso gigante a essa mudança. Nigel Farage, o líder da extrema-direita do Reino Unido, foi a primeira personalidade estrangeira a ser recebida por Donald Trump. E o significado do gesto, enfim, devia fazer soar todas as campainhas deste lado do Atlântico sob pena de, como avisava ontem Jorge Sampaio, os 60 anos da assinatura do Tratado de Roma se transformarem num enorme cortejo fúnebre.
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