Voltou a acontecer. O terror mais uma vez atinge a França em cheio, sem que ninguém o tivesse conseguido prever. A guerra, uma guerra sem regras (porque a guerra tem regras), está a acontecer no coração do Velho Continente. Este é, sem dúvida, o verdadeiro problema da Europa.
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O 14 de de julho, a festa dos franceses, que devia ser a festa de todos nós, a festa da democracia, terminou, em Nice, da forma mais sangrenta: 84 mortos, entre eles pelos menos 10 crianças, e 52 feridos lutam, entre a vida e a morte. Ao massacre no Passeio dos Ingleses, quinta-feira à noite, quando milhares de famílias assistiam à sessão de fogo de artifício, o Estado francês responde com a ameaça de ataques à Síria e ao Iraque. Uma fuga para à frente, de um presidente a recolher cada vez menos confiança dos seus concidadãos. E não vai resolver o problema, pelo contrário, como se tem verificado, irá agravá-lo.
Madrid, Londres, Paris, Bruxelas. Todos as cidades foram já feridas de morte pela intolerância e o radicalismo. Em Nice, apesar da pronta resposta bélica de Hollande, o atentado perpetrado com um camião - ao que tudo indica, até agora, conduzido por um indivíduo que terá agido isolado - não foi reivindicado. Atirar à Síria e ao Iraque é lançar mais gasolina para um incêndio já descontrolado. Salvo se os serviços secretos franceses possuem informações privilegiadas, embora não lhes tenham permitido evitar que um camião entrasse numa marginal vedada ao trânsito em noite de festa.
As autoridades francesas, que prolongaram o estado de emergência por três meses, querem dar a ideia de que a vida continua dentro da normalidade. Por isso, o Tour, a volta à França em bicicleta, continua, com segurança reforçada. Pura ilusão. Não mais se vive em paz. E esse é o grande problema da Europa. Embora os seus líderes, aparentemente, estejam alheados dessa guerra difusa, mas eficaz na sua barbárie, que alastra no Velho Continente. Parecem mais preocupados em fiscalizar em quantas décimas os estados, com especial atenção para alguns, ultrapassaram o défice e em gizar-lhes um castigo exemplar. Um castigo aos povos desses estados, fustigados pela austeridade.
Quanto tempo mais farão de conta que não veem a vaga do radicalismo a crescer. E a ameaça não vem apenas dos radicais islâmicos. Atrás dela, vem outra onda, talvez ainda maior, a do descrédito - que nos deve fazer lembrar tempos muito negros e não longínquos da história da Europa.
* EDITORA-EXECUTIVA-ADJUNTA