Talvez tenha sido tudo um sonho mau que se arrastou no sombrio labirinto das nossas mentes. Talvez não seja verdade que a Alemanha gosta tanto da solução governativa em Portugal como os concorrentes do Desafio Final gostam de ler Descartes na casa de banho. Talvez o ministro das Finanças germânico, Wolfgang Schäuble, cultive aquele ar austero mas seja, na verdade, um coração mole que se arrepia sempre que ouve a voz de Salvador Sobral a entoar "Amar pelos dois". Talvez já não haja necessidade de atiçarem os mercados com um novo resgate a Portugal. Talvez Mário Centeno tenha metido alguma coisa na meia de leite de Schäuble durante um Ecofin matinal. Talvez ninguém acredite que um dos homens mais poderosos da Europa tenha passado, subitamente, a ser o presidente do clube de fãs do ministro das Finanças português, a quem apelidou de "Ronaldo do Ecofin" (e para que não houvesse dúvidas de que tinha dito o que uma publicação lhe havia atribuído, reforçou a comparação futebolística de viva voz). Talvez haja razões para ficarmos inchados de orgulho, ainda por cima porque Centeno, além de ser o CR7, pode também ser o Mourinho, se se confirmarem os rumores de que está na calha para liderar o Eurogrupo. Talvez, na verdade, seja tudo tão cor-de-rosa que não seja real. Ou então não: Mário Centeno, além de ser o Ronaldo, também é o Houdini.
* JORNALISTA
