"Para quê mexer no que está quieto?" podia ser o lema oficioso do espírito empreendedor lusitano. Numa terra com tantas oportunidades, até os medíocres, se não forem excessivamente passivos nem conflituosos, podem triunfar. Isso mesmo constatei numa experiência estival que transformou a ideia de almoçar cerca das 14.30 horas no coração do sotavento algarvio numa missão penosa e surrealista. Não, não estou a exagerar. Tentei em pelo menos seis restaurantes. Tampa atrás de tampa. As razões invocadas variaram: o horário (não vi nenhum afixado); o pessoal já foi embora (qual, o que estava a servir às mesas?); já não temos comida (ri, ri muito); já desligámos os fornos (só não me atirei para o chão porque estava sujo); já vendemos o peixe todo (e eu que ia comer um t-bone); se fossem menos até se arranjava uma mesita (aqui hesitei, mas os meus filhos não iam achar graça nenhuma à ideia de ficarem a salivar à porta). A criatividade das desculpas quase me comoveu. Pareciam falas intercaladas de um guião combinado. Almocei pouco depois das três da tarde num restaurante com pouco pessoal, horário alargado, comida em barda e mesas vazias. Nessa noite, para desanuviar, fui tomar um copo a um bar que fechava às duas da manhã mas desligava a máquina de café às dez da noite. E foi então que caí em mim: quem me manda ser extravagante em agosto?
* JORNALISTA
