Corpo do artigo
Quanto dura um clique, um like sobre um post? Quanto inquieta, pensa uma imagem na rapidez volátil do Instagram?
No espaço mediático das denominadas redes sociais uma avalancha de informações e imagens circulam, propagando-se de forma instantânea, em ondas que animam uma espécie de sistema nervoso social.
Mas, para lá da emoção instantânea que geram, o seu significado repousa ao nível de efeitos eminentemente formais, revelando e produzindo, num espaço "feito" público, uma realidade espetáculo de fabricação e consumo rápido. Os acontecimentos sucedem-se em catadupa, num ritmo inebriante, mas pela sua importância relativa na fugacidade do devir, são equivalentes entre si - neutralizam-se e esgotam-se. "Passada uma primeira emoção epidérmica, a realidade mais dramática é votada ao esquecimento" para "integrar o curso de uma história obliterada e sem espessura (Jeudy, 1995). Apatia e indiferença são os restos que sobram de um jogo social com que se entretêm os dias na ilusão de participação autêntica.
Talvez nem tudo, nem sempre, seja assim. As redes sociais mitigam solidões, comunicam emoções, "amizades" que se revivem e recriam no flash de um post. E isto tem valor. Mas na sua ação massificadora, que comportamentos induz? Que comunicação promove? Que verdades, factos, propaga na voragem de um Twitter?
É inegável a pressão consumista que domina a transação de imagens, emoções, opiniões. Estar ativo na rede implica atualidade permanente: resposta constante ao que é comunicado. A espera, a reflexão, o comentário interativo, não têm lugar na precipitação do agora, na leveza do imediato.
Penso ser este apelo hedonista da leveza a mais terrível dimensão que as redes sociais, assim governadas, produzem e alimentam: a fuga da realidade pelo culto do prazer online. As imagens da rede não registam o Mundo; não medeiam uma interpretação ou ação sobre ele. Criam um outro, alternativo. A sua força atrativa está na capacidade de isolar da dor do Mundo, proteger, no grupo especial de amigos, da exclusão anónima, do desconhecido que insiste em nos olhar, tocar.
A realidade é incómoda; o concreto por vezes cheira a morte, velhice, miséria. O que podem as imagens concretas da dor, da fome no Sudão do Sul, das portas da Líbia de onde partem os que sonham a Europa, dos gritos em Mossul, postadas em paralelo com as imagens glamorosas das férias do Facebook? Valem um like; um desconforto e o rápido esquecimento.
*PRESIDENTE DO POLITÉCNICO DO PORTO
