Ao nível das autarquias, são inúmeros os casos em que eleitos de forças políticas diferentes repartem responsabilidades, procurando trabalhar em conjunto para resolver os problemas dos municípios ou das freguesias. Eu próprio, é sabido, aceitei, como vereador da CDU e no mandato 2002-2005, um pelouro na Câmara do Porto que foi atribuído por Rui Rio. Mas, sempre o disse, o compromisso de qualquer eleito é, em primeiro lugar, com os seus eleitores e com o programa que lhes apresentou. O que leva a negociações, com cedências das várias partes, em torno de propostas concretas. Mas com riscos vermelhos que não se podem ultrapassar, independentemente da perda, ou não, dos pelouros atribuídos. Orgulho-me, por isso, de, durante esse mandato, ter negociado, construtivamente, dezenas de propostas, melhorando-as (na minha opinião, naturalmente...), ao mesmo tempo que fui o vereador que mais vezes votou contra as propostas apresentadas pela maioria.
Este parece-me ser um princípio salutar do funcionamento das câmaras, em que, na diversidade, todos procuram contribuir positivamente para a resolução dos problemas do município, mantendo a sua independência e visão programática própria.
Não é isso que, infelizmente, está a acontecer no Porto. Rui Moreira ganhou as eleições com o apoio do CDS e de uma parte do PSD (a fação Rio que, segundo me dizem, está hoje arrependida...). Logo no início, fez um acordo pós-eleitoral com o PS, em que este partido abdicou do seu programa, comprometendo-se a implementar o programa de Moreira! Que agora pescou à linha no PSD, atribuindo um pelouro a um vereador deste partido, sem qualquer tipo de negociação com o PSD - situação que mereceu o aplauso dos restantes vereadores deste partido!... Vereador que, naturalmente, vai implementar o programa de Moreira (que não estou a ver a aceitar a implementação do programa de... Meneses!).
Esta situação é perigosa, dado que cria um "unanimismo" podre, onde não há diversidade de ideias e onde há vereadores que são mais "moreiristas" que Moreira, defendendo as posições deste, num afã de mostrar serviço e preservar interesses pessoais. Como se provou na última reunião, onde vereadores do PS e do PSD foram os defensores de serviço de uma situação urbanística pouco transparente. Veremos o que o futuro nos reserva, mas a proximidade das eleições e a quantidade de gente que se perfila para entrar nas listas de Moreira não augura nada de bom ao nível do relacionamento entre tantos candidatos...
O Porto é, assim, governado por uma "jigajoga". Expressão que nos remete para o universo das maquinetas, mas onde, ao contrário da "geringonça", o que está em causa não são programas mínimos comuns, mas sim, e principalmente, os interesses pessoais... O que é mau!
* ENGENHEIRO
