Conheci Manuel Sampaio Pimentel em 1997, num debate que, na noite eleitoral das autárquicas desse ano, tivemos na Rádio Festival. Ele era o mandatário da candidatura do general Carlos Azeredo, apoiado por uma coligação PSD/CDS, à presidência da Câmara Municipal do Porto. Eu era o primeiro candidato da CDU à Assembleia Municipal do Porto. Gostei da convicção dele no apoio ao general, cuja campanha não tinha corrido bem, com uma série de afirmações infelizes, e com um PSD nitidamente a descolar do candidato, procurando minorar a importância das eleições no Porto para realçar a previsível vitória de Menezes em Gaia...
Fomo-nos depois cruzando esporadicamente, quer pelos cargos institucionais que ocupámos quer nos confrontos partidários em que participámos. Mas foi a partir de 2005 que tivemos oportunidade de conviver mais de perto, ambos como vereadores da Câmara Municipal do Porto, ele com funções delegadas por Rui Rio, eu como vereador sem pelouro.
Estivemos em desacordo na maior parte das vezes, tendo sido eu um frontal opositor da maioria das suas decisões políticas. Recordo a forma de gestão dos recursos humanos da Câmara, a opção pela transformação do mercado do Bom Sucesso num centro comercial e, mais recentemente, a aplicação do regulamento de Rui Rio que vedava a possibilidade de colocação de propaganda política no Porto - e de que ele foi um dos mais fervorosos apoiantes e "praticante", dado que lhe competia, como vereador do Pelouro da Fiscalização, retirar essa propaganda.
Tivemos, assim, confrontos duros, recordando um artigo que ele escreveu no semanário "Grande Porto", em que criticou vivamente a minha gestão dos SMAS entre 2002 e 2005, e que mereceu um artigo de réplica, também duro, para as suas opções. Situação que levou o semanário a convidar-nos para um almoço em que, frente à caneta do jornalista, trocámos argumentos em defesa das nossas posições.
Mas, apesar destas diferenças, naturais em duas pessoas com opções políticas opostas, havia, entre nós, um profundo respeito que decorria do facto de discutirmos ideias sem pormos em causa o caráter de quem as defende. A que se juntava lealdade, entendida como respeito pelos compromissos e honra no seu cumprimento. Isto permitiu a construção de uma relação que, não pondo de lado as divergências, ia para além das mesmas. Que permitiu que ele aceitasse ser minha testemunha num processo contra um munícipe que me insultou numa reunião da Câmara. Ou telefonar-me, quando foi conhecida a minha renúncia ao mandato de vereador, chamando-me "macaco de imitação" (dado que ele próprio tinha renunciado meses antes). Ou conversarmos sobre o seu afastamento relativamente às opções de Rui Moreira, até porque, para ele, era difícil a incoerência de suportar opções contraditórias com aquelas que tinha defendido enquanto indefetível apoiante de Rio.
Coisas que, hoje, perante a sua partida, não têm qualquer importância. Perdurando, no entanto, a imagem de um adversário leal.
* ENGENHEIRO
