Quase tão improvável como um cometa atingir a Terra, foi necessário esperar pela chegada de um adolescente de 70 anos à presidência dos Estados Unidos da América para a Europa perceber que a forma de se movimentar na cena internacional não pode ser igual à maneira como as crianças correm num parque de diversões, sem rumo certo ou à cata de melhor baloiço.
Confrontada com declarações recentes de Donald Trump, após as cimeiras da Aliança Atlântica e do G7, Angela Merkl queixou-se de vivermos tempos em que já não é possível confiar nos amigos. Atendendo às responsabilidades que tem como líder de uma Europa assim para o esfrangalhada, a chanceler alemã devia saber que nunca os EUA - não obstante terem contribuído, decisivamente, nos últimos cem anos, para a estabilidade do Velho Continente - ou outro país qualquer, fazem alguma coisa sem um interesse mais ou menos encoberto e, por vezes, à vista de todos. Em muitas ocasiões, legítimo, até.
Acontece que o fanfarrão norte-americano não perdeu tempo e voltou à carga. Donald Trump promete obrigar a Europa a contribuir de forma mais efetiva no orçamento da NATO (terá mesmo alguma razão neste ponto), mas como é uma espécie de rei Midas ao contrário, ao berrar a insatisfação no Twitter voltou a partilhar aquela imagem ridícula de falsa amiga desbocada.
Como quase tudo pode e deve ter uma face positiva, a fanfarronice desta súbita falsa amizade norte-americana pode e deve ser transformada em oportunidade. "Falta ao Mundo o protagonismo da União Europeia", constatou o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no início da semana, na Grande Conferência do JN, acrescentando que a Europa não poderá contar com os aliados para o recuperar. É verdade: terá de o fazer sem os Estados Unidos e sem esta Inglaterra. Mas isso todos os líderes europeus deviam saber há muito. O erro foi esperar por um despertador chamado Donald Trump. Aparentemente acordados, chegou a hora de implementar uma política concertada e efetiva em matéria de defesa, que só poderá contribuir para uma União mais forte e amplificada ao Mundo. Não há que ter medo. Os desafios são novos e resultam, principalmente, de cobardes atentados terroristas. O inimigo, neste caso, caminha dentro das nossas fronteiras, por mais que nos queiram vender a bondade dos bombardeamentos nas Sírias do planeta. Posto isto, "covfefe" para si também, Mr. Trump.
* Editor-executivo-adjunto
