Quando confrontado com a subida do rating da dívida portuguesa, o ministro das Finanças, Mário Centeno, optou por não entrar na onda de entusiasmo e colocou um bloco de gelo na fervura, lembrando que "a dívida permanece a quarta maior do Mundo". Depois, veio a esperada reclamação de louros, sobretudo, por parte dos socialistas, dos sociais-democratas e dos centristas, tudo porque a Standard & Poor"s entendeu, finalmente, deixar de colocar Portugal no nível "lixo". Independentemente da habitual, e até compreensível, tentativa de capitalização política, ninguém terá dúvidas de que esta nova realidade resulta tanto da ação dos dois últimos governos como do esforço dos cidadãos e dos empresários, os primeiros estrangulados por impostos, os outros pela descida a pique do investimento público.
Voltando à declaração de Mário Centeno, a dimensão da dívida portuguesa é, efetivamente, preocupante. Podemos poupar milhões com a descida dos juros nos mercados internacionais, mas os constrangimentos estruturais mantêm-se, pelo que não adianta descansar à sombra das variações de rating enquanto estiver por resolver este problema, que, no limite, asfixia o país. E que, se não estiver intimamente ligado, caminha, pelo menos, de braço dado com outro indicador: Portugal é, segundo o mais recente estudo sobre este tema, o quarto país do Mundo com maior percentagem do PIB em offshores - o equivalente a um quinto da riqueza que produzimos todos os anos. Também a já resgatada Grécia aparece, curiosamente, bem colocada nestes dois rankings que todos desejam dispensar: o da dívida e o das offshores. Não há coincidências.
O problema das offshores, sabemos, não podemos resolver sozinhos. Se calhar, nem acompanhados, pois depende de existência de uma vontade global, dos grandes líderes mundiais, que está longe de existir. Mas é possível e necessário criar rapidamente condições de confiança, ao nível da Banca e do investimento, para que os donos do capital se sintam estimulados a investir o dinheiro no nosso país, em vez de o congelarem no estrangeiro. Por outro lado, é imperioso reforçar a batalha da monitorização dos capitais enclausurados nos paraísos fiscais - no lado obscuro das offshores -, pois é lá que se governa a alta finança paralela, fugindo ao Fisco e penalizando, assim, os restantes contribuintes e o Estado.
*EDITOR-EXECUTIVO-ADJUNTO
