Um erro detetado - não ocultado nem disfarçado. Problema resolvido, portanto, acredita o primeiro-ministro. Com estas palavras, ontem, durante o debate quinzenal no Parlamento, Pedro Passos Coelho quis minimizar o caos. Como se fosse possível, nesta situação, disfarçar o erro e deixar de o detetar. Por muito que o chefe do Governo apoie o seu ministro da Educação, ao reafirmar que apenas 2 por cento dos professores são afetados pelo problema, as escolas não o sentem da mesma forma.
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Embora ontem tenham sido publicadas novas listas de colocação, a normalidade não chegará às escolas antes do meio da próxima semana. A 15 de outubro, poderá haver ainda professores a assumir lugares nas escolas, a fazer as tradicionais apresentações. E, por muito boa vontade que exista por parte destes docentes, será impossível recuperar o tempo perdido.
Por muito que recue na memória aos meus tempos de liceu, no início dos anos oitenta do outro século, com ecos de Revolução ainda a soar, não me lembro de tamanha balbúrdia na abertura do ano escolar. É verdade. Havia sempre uma ou outra disciplina em que o professor tardava a aparecer (para nosso contentamento). Mas, enfim, nada comparável a esta farsa desagradável, a este jogo da cabra-cega, com alunos a ter professor e logo a seguir o docente perder o lugar.
Nuno Crato tem um passado contra si. Foi comentador e um crítico acérrimo do sistema educativo português. Do outro lado, apresentava solução para tudo ou quase tudo. Muitos portugueses depositavam grande esperança no bom comunicador televisivo, especialista em Matemática. A sua ida para o Governo fez crescer as expectativas. O próprio garantia: implodiria a 5 de Outubro. E fê-lo. Mas do caos não nasceu nada.
O comentador agora no papel de ministro avançou com a sua revolução, sem trocar uma palavra com os que fazem as escolas: os professores, os alunos, o pessoal auxiliar. Traçou um rumo (seria um rumo?) no mais profundo desrespeito pelos diretores das escolas, interlocutores privilegiados do Ministério da Educação. Fê-lo, dando-lhes indicações erradas. O que se esperava do professor Nuno Crato, agora ministro da Educação, era que no seu anseio reformador, de uma vez, reformasse o sistema de colocação de professores. Um sistema ágil, objetivo. Dando de facto autonomia às escolas para recrutar o seu corpo docente entre os mais aptos.
Na equipa de Crato, lembre-se, está o secretário de Estado João Grancho, fundador e presidente de uma associação, muito ativa nos governos de Sócrates e agora em pousio, chamada "SOS Professor". Ironia do destino.
