Após quatro anos de peritagens, a justiça francesa anunciou ontem que o acidente envolvendo um Concorde, em Julho de 2000, nos arredores de Paris, no qual morreram 113 pessoas ficou a dever-se "à presença de um defeito importante" e também a uma "causa estranha ao aparelho", mais concretamente a uma lamela pertencente a uma avião DC10, perdida na pista.
"O acidente não ficou a dever-se a um verdadeiro vício de concepção, mas a um defeito importante conjugação de uma fraqueza relativa da superfície interior da asa, e portanto dos reservatórios de combustível , e de uma exposição a choques múltiplos em caso de estilhaçamento de pneus e rodas", segundo as conclusões do relatório apresentado pelo Ministério Público de Pontoise, perto de Paris.
O Ministério Publico acrescenta que esta falha "revelou-se progressivamente ao longo da exploração comercial do aparelho, sem que tenha sido suficientemente tida em conta por quem deveria ( o construtor - Aérospatiale - autoridade administrativa e departamento de inquéritos e análises)".
"Os peritos relevam particularmente que, numa nota de 10 de Agosto de 1979, a probabilidade de subitamente acontecer um acidente da mesma natureza já era fortemente encarada pelas autoridades administrativas", diz ainda o relatório.
"Soluções técnicas para reforçar o interior das asas do aparelhos (...) foramprocuradas em 1979. Estes trabalhos nunca foram realizados até 2001, ou seja, posteriormente ao acidente", acrescenta. O Ministério Público confirmou ainda o "papel de causalidade directa" desempenhado pela lamela metálica do DC10 da Continental Airlines, perdida na pista.
"O inquérito mostrou "que a substituição da peça de origem do DC 10 por uma lamela em liga de titânio (...) não tinha sido autorizada pela Direcção de Aviação Civil americana (FAA)", diz ainda o relatório.
"Imperfeições foram também destacadas em matéria de enquadramento e formação das tripulações dos Concorde, acrescenta o Ministério Público, precisando ainda que no momento do acidente, o comandante de bordo começava uma rotação (descolagem) a uma velocidade demasiado baixa".
Por outro la do, referem-se ainda "oscilações notadas no funcionamento do reactor número 2 (...)que irão levar o oficial mecânico a desligar demasiado depressa" aquele reactor.
Vários funcionários e dirigentes da americana Continental Airlines serão convocados em Fevereiro e Março pelo juiz de instrução que conduz o inquérito sobre o acidente.
