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Leccionava Filosofia, quando ao demonstrar um fervoroso interesse pelas questões políticas, durante um jantar, surgiu o convite para trabalhar no "Independente". Hoje, está na TVI como editora da área mais próxima do poder e avança com entusiasmo que gostaria de fazer mais entrevistas. A favor do seu desejo diz notar um interesse crescente dos cidadãos pela matéria. Talvez a crise sentida na pele justifique o interesse renovado, e, no caso das presidenciais, diz, o cenário de se estar diante de um duelo de gigantes também ajudará. Dos debates presidenciais que aí vêm, assinala que o de Francisco Louçã/Cavaco Silva, entre especialistas em Economia, e o de Mário Soares/ Manuel Alegre prometem. Constança Cunha e Sá prevê uma campanha animada.
[Jornal de NotÍcias] Os comentários às suas entrevistas aos candidatos presidenciais nos blogs são elogiosos ou arrasadores.
[Constança Cunha e Sá] Há quem goste e quem não goste do meu estilo. Mas não acho as minhas entrevistas agressivas e nestas, então, tive algum cuidado. O que é ser agressivo? Fazer perguntas que levem os candidatos a explicar melhor o que pretendem fazer e como, porque o 'como' é muito esquecido? Algumas perguntas poderão ser incómodas, mas também lhes dou oportunidade para responderem.
Estará o espectador habituado à pergunta passiva?
Hoje, há muitas entrevistas que são mais conversas do que outra coisa. Não sou adepta desse tipo de entrevista, principalmente quando se trata de políticos. Há coisas desagradáveis que os candidatos previsivelmente disfarçam. Fiz uma entrevista a José Sócrates, que foi considerada agressiva, e, de facto, tentei que ele respondesse de que modo poderia aumentar o emprego e uma série de outras coisas, e ao mesmo tempo não subir os impostos. E tanto que havia ali um problema, que ele mais tarde subiu os impostos.
O papel do jornalista é chamar a verdade, confrontar?
As entrevistas devem ser esclarecedoras. Em relação a estes candidatos, não se trata do que cada um deles pensará do futuro da pátria. Todos querem o mesmo. Mas perceber como irão actuar. Era bom que se explicasse como é que com os actuais poderes do presidente, tencionam cumprir as promessas.
Terá oportunidade de interrogar de novo os candidatos (nos debates "a dois"). A qual deles tem mais coisas a perguntar?
Não fiquei particularmente insatisfeita com nenhum.
Quem contrariou mais?
Não sei. Mário Soares tinha duas ou três coisas para dizer. Fugiu mais habilidosamente às perguntas, teve opiniões frontais. A estratégia era definir e atacar o adversário. Cavaco Silva, e também porque está à frente nas sondagens, quis comprometer-se o mínimo possível. Refugiou-se nas questões de Estado.
Cavaco deu-lhe mais luta por causa das não-respostas?
Todos eles deram luta. Mais luta do que Jerónimo de Sousa não há. Tem um discurso fechado.
Quanto à estratégia e imagem dos candidatos, qual deles estará mais bem preparado?
A campanha de Cavaco Silva não é muito diferente da de Sócrates. Todo o discurso de Sócrates se refugiou nos objectivos gerais e nos silêncios. Ninguém lhe arrancou mais nada. Quanto à imagem e ao marketing, talvez Manuel Alegre esteja menos preso a uma máquina. A candidatura de Cavaco está pensada ao milímetro. Deu para perceber que todos eles têm uma estratégia. Soares quer ganhar a supremacia da esquerda, anulando os outros. Corre o risco de parecer demasiado negativo. A estratégia de Cavaco foi pensada para o candidato institucional, ele fala já como pré-presidente. O risco é que por não arriscar nada, perca a capacidade de atrair indecisos. Louçã e Jerónimo medem forças entre eles. E Manuel Alegre é um "outsider". O que também pode ser uma vantagem pode cativar os que estão cansados dos outros.
Dos políticos da nova geração, há algum que lhe suscite curiosidade?
Devem andar escondidos. Estas eleições mostram um vazio tremendo e uma desistência da geração de António Guterres e António Vitorino. E acontece o mesmo no PSD. A geração de Durão Barroso parece que se eclipsou.
